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sábado, 22 de março de 2025

RADAR JUDICIAL

MANTIDO AFASTAMENTO DE JUÍZA 

Ontem, 21, o STF negou liminar em habeas corpus, requerido pelo juíza Marivaldo Almeida Moutrinho, que buscava retornar às suas atividades. A magistrada foi afastada em 2019, na Operação Faroeste, que apura venda de sentenças. O ministro Edson Fachin, relator, assegura que não há manifesto constrangimento ilegal, para provocar o deferimento do habeas corpus; alega que o afastamento da magistrada aconteceu em seis ocasiões, sendo a última em fevereiro, pela Corte Especial do STJ. O Ministério Público acusou a juíza, juntamente com a desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago, de participação em esquema criminoso, responsável pelo envolvimento de desembargadores, juízes, servidores públicos, advogados e empresários.

APOSTAS ESPORTIVAS

Em Agravo de Instrumento, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou provimento para localizar créditos em sites de apostas esportivas. O fundamento foi de que não havia prova de que o devedor tinha registros nesses sites, impedindo desta forma a expedição dos ofícios para localizar créditos. Os magistrados entendem que tais medidas, a exemplo da penhora, só serão possíveis se constatada certeza absoluta da existência de valores disponíveis na conta do devedor. Há controvérsia entre os magistrados, porque uns defendem a garantia da satisfação de créditos inadimplidos, outros entendem posicionamento excessivo ou desnecessário. O art. 139, inc. IV do Código e Processo Civil, permite que todas as "medidas indutivas, coercitivas, mandamentos ou sub-rogatórias para garantir o cumprimento de uma ordem judicial".     

ATAQUE DE ABELHAS: INDENIZAÇÃO

Um apicultor foi condenado na indenização a um casal de R$ 5 mil, para cada um, por danos morais, R$ 231,51, por danos materiais, face a um ataque de abelhas que vitimou o cão deles. A decisão foi da 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que manteve sentença do juiz da Comarca de João Pinheiro/MG. O casal ingressou com ação, em outubro/2020, alegando que, nas ruas de um distrito de João Pinheiro, caminhavam com a cadela de estimação e foram atacados por um enxame de abelhas. O animal acabou morrendo e o casal teve ferimentos nos braços, nas pernas, no rosto, nas mãos e na cabeça.        

DECRETO REGULAMENTA PROCESSOS 

O Tribunal de Justiça da Bahia publicou na sexta-feira, 21, no Diário da Justiça o Decreto Judiciário 218, que regulamenta os processos judiciais e administrativos que tramitam em sigilo no PJe. A OAB/BA, através de relatório mostra a compatibilidade do ato com a Constituição, sobre atos processuais e os reflexos na advocacia. O relatório atesta avanço normativo, mas chama a atenção para falhas, no que concerne com a discricionariedade concedida ao magistrado. O problema é que o Estatuto da Advocacia consigna aos advogados direito de acesso livre a qualquer procedimento; no caso de sigilo, exige que o advogado esteja habilitado e com procuração. O relatório conclui sobre a permissão de acesso somente quando o julgador entender conveniente; outro ponto tratado é acerca do sigilo automático às investigações contra magistrados, contrariando o Regimento Interno do Tribunal.  

TRUMP QUER GANHAR NO GRITO

O presidente Donald Trump está inconformado com as várias decisões judiciais, revogando suas "ordens executivas" inconstitucionais. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, DOJ, por ordem de Trump, pediu à Suprema Corte para retirar competência dos juízes federais na concessão de liminares com validade em todo o país, denominadas de liminares universais. O DOJ alega que "não pode exercer apropriadamente suas funções, se qualquer juiz, em qualquer lugar, pode bloquear toda ação presidencial, em todos os lugares". Através do "recurso de emergência", o governo questiona decisões de três juízes, nos estados de Maryland, Massachusetts e Washington, responsáveis por bloqueio de ordem executiva que extinguia a cidadania por nascimentos, em território dos Estados Unidos para filhos de cidadãos que não são americanos. 

O juiz John Coughenour, conservador, de Seattle/EUA, nomeado pelo ex-presidente Ronald Reagen, republicano, classificou de "flagrantemente inconstitucional" a ordem executiva, que viola a 14ª Emenda, nos seguintes termos: "Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos e sujeitas à jurisdição do mesmo são cidadãos dos Estados Unidos e do estado onde residem. Nenhum estado deve aprovar ou executar qualquer lei que restrinja os privilégios ou imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos". Mais clareza não pode: Trump está possuído de má fé para assumir também o encargo de juiz. A advogada-geral interina dos Estados Unidos, Sarah Harris, insistiu na extinção do poder dos juízes, mais do que no mérito da demanda. Diz a advogada: "A concessão de liminares universais está tomando proporções epidêmicas...".      

Santana, 22 de março de 2025.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.


 

 



PENDURICALHO TAMBÉM PARA MINISTROS

Os penduricalhos alcançam também os ministros do STF; Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes receberam, em 2024, penduricalhos retroativos do Ministério Público, onde trabalharam antes de desembarcarem no STF; além deles, promotores e procuradores participaram também da distribuição dos penduricalhos. O ministro Moraes recebeu R$ 177.645,76, referente ao período de 1991 a 2002, durante sua permanência como promotor de Justiça, em São Paulo. Já o ministro Gilmar Mendes percebeu R$ 109.893,76, durante o período de 1985 a 1988, quando exerceu o cargo de procurador da República; apesar de cedido para outros órgãos, continuou vinculado ao Ministério Público Federal até 2002. O ministro Moraes recebeu dos cofres públicos em 2024 o valor de R$ 364 mil e o ministro Gilmar Mendes, R$ 382 mil. 

Os denominados penduricalhos são constituídos de indenizações, a exemplo de auxílios para alimentação, saúde, moradia, abonos de permanência além de outros direitos. O Ministério Público de São Paulo assegura que se trata de "atrasados são reconhecidos por lei e decisões judiciais". A APMP, em nota, afirma que "pauta sua atuação pelo respeito à legislação e aos princípios éticos e que defende os direitos e prerrogativas de seus associados em todas as frentes". Juliana Sakai, diretora-executiva da Transparência Brasil, declara: "Este é mais um problema de: quem decide é o próprio beneficiado da decisão - uma excrescência em termos de boa governança e frontalmente contra o princípio da impessoalidade na administração pública". A matéria é do jornal Folha de São Paulo.      

 

PROFESSORES DE SÃO PAULO MARCAM GREVE

Secretaria de Educação de São Paulo
Além da Bahia, também professores estaduais de São Paulo entrarão em greve no dia 25 de abril, visando exercer pressão sobre o governo de Tarcísio de Freitas para contratar profissionais efetivos, aumentar o piso salarial e apresentar plano de climatização para as escolas. O sindicato da categoria, APEOESP, realizou assembleia, em frente à secretaria estadual de Educação, para aprovar a greve. A deputada Maria Izabel Noronha, segunda presidente do sindicato, declarou que "a situação da categoria está cada dia pior: pressão por resultado, assédio moral nas escolas, baixos salários, falta de profissionais, péssimas condições de trabalho". O Ministério Público ingressou com duas ações civis públicas, visando forçar o governo do estado na recomposição dos profissionais da área.

O problema é que o governo, ao invés de realizar concurso público, prefere fazer contratações de profissionais temporários. Os professores querem também cumprimento do Piso Nacional Salarial dos Professores, atualmente, complementado com bonificação para alcançar o mínimo da categoria. A secretaria esclarece, em nota, que "a atual gestão realizou certame para a contratação de professores" e foram aprovados 15 mil novos profissionais, mas não realizou o concurso, aprovada desde início de 2022, pelo governo João Doria.       

 

ISRAEL MATA E QUER ANEXAR GAZA

Habitantes de Gaza em deslocamento
Três dias depois que Israel recomeçou o bombardeio contra Gaza, depois da trégua de 19 de janeiro, o ministro da Defesa, Israel Katz, declarou ontem, que pode anexar partes da Faixa de Gaza ao território israelense, caso o Hamas não libere os reféns. Israel continua bloqueando entrada de ajuda humanitária em Gaza, desde o dia 2 de março, e promete liberar somente depois que o Hamas aceitar a proposta de troca reféns por prisioneiros palestinos. Após a morte de mais de 400 pessoas, em Gaza, no início da semana, ontem, perderam a vida mais 11 palestinos e já perfaz o total de 520 mortos pelos intensos bombardeios dos carniceiros israelenses. Esse número é o mais elevado desde o início da guerra, há quase dois anos, quando houve o atentado em 7 de outubro. Katz declarou que "quanto mais o Hamas se recusar a libertar reféns, mais território perderá, e esse território será anexado por Israel". Os ataques dos israelenses conta com apoio do governo do presidente Donald Trump, apesar da manifestação internacional contra o verdadeiro morticínio desencadeado em Gaza.   

O Ministério das Relações Exterior da Turquia condenou ontem, 21, o denominado ataque "deliberado" de Israel contra um hospital, construído pelo Estado turco em Gaza. O Ministério da Saúde de Gaza condenou "o crime atroz cometido pela ocupação, principalmente, porque o hospital é o único de tratamento de pacientes com câncer". Os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, França e Reino Unido, em comunicado conjunto, escreveram: "Estamos consternados pelas baixas civis e fazemos um chamado urgente para o retorno imediato de um cessar-fogo". Enquanto isso, os próprios israelenses, no curso da semana, em Jerusalém, protestaram contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Segundo o Exército israelense das 251 pessoas sequestradas no ataque do Hamas, em Israel, no 7 de outubro de 2023, 58 continuam presas em Gaza, 34 foram declaradas mortas. O Exército israelense devota total apoio à manifestação estúpida de Trump, no sentido de deslocar 2,4 milhões de habitantes de Gaza para Jordânia e Egito, e transformar o território de Gaza destruído em uma "Riviera do Oriente Médio".  

 

AULAS DEBAIXO DA TERRA

Aulas a seis metros debaixo da terra
Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, 30 quilômetros da fronteira com a Rússia, as aulas acontecem seis metros "debaixo da terra", com paredes de 90 cm de espessura, desde que o país foi invadido pelos criminosos russos. Isso ocorre também com muitos espetáculos, porque é frequente os ataques de mísseis, drones e foguetes. Com a invasão, em 24 de fevereiro/2022, muitas escolas foram fechadas, mas colégios públicos encontraram meio para evitar a quebradeira de vidros e a destruição, originadas dos ataques russos. Para se ter ideia do que significa a destruição promovida pelo ditador russo, basta saber que um míssil S-300 leva 40 segundos entre o local do lançamento, na Rússia, até a cidade de Kharhiv, o que impossibilita a proteção de crianças, em eventual deslocamento para os bunkers. Além das escolas existentes, mais cinco subterrâneas serão inauguradas até setembro.  

Desde a pandemia de Covid-19, em 2020, as crianças, em Kharkiv, estavam sem aulas presenciais. A professora Svitlana Povartchuk diz que "muitas vezes, elas passam a noite ouvindo alarmes antiaéreos, não dormem direito e chegam aqui cansadas e agitadas. Outro dia, eu estava com os alunos fazendo uma prova na classe, recebi um telefonema estanho do diretor, que só perguntou se estava tudo bem. Quando acabou a aula, chequei meu celular e vi que haviam bombardeado a praça que fica menos de um quilômetro daqui. As crianças não ouviram nada". A cidade dispõe até mesmo de hotéis debaixo da terra, mas sem janelas e edificados com paredes grossas. A matéria foi retirada do jornal Folha de São Paulo.


 

MANCHETES DE ALGUNS JORNAIS DE HOJE, 22/03/2025

CORREIO BRAZILIENSE - BRASÍLIA/DF

Consignado para CLTs: brasileiros já simularam 15 milhões de empréstimos

Informações divulgadas pelo Ministério do trabalho e revelam um total de 1,5 mil contratos fechados

O GLOBO - RIO DE JANEIRO/RJ

Ofensiva de Bolsonaro contra cerco judicial inclui anistia, pressão externa, TSE e Ficha Limpa

Inelegível, ex-presidente pode virar réu por trama golpista e reforça frentes para tentar reverter inelegibilidade


TRIBUNA DA BAHIA - SALVADOR/BA

Mendonça adere à defesa de Bolsonaro 

e sepulta unanimidade no STF sobre Moraes

O caso será analisado na Primeira Turma, e Mendonça pertence à Segunda


CORREIO DO POVO - PORTO ALEGRE/RS

Israel promete tomar mais terras em Gaza para pressionar Hamas a liberar reféns

Tropas israelenses avançaram em direção às cidades de Beit Lahiya, no norte, 

e Rafah, no sul

DIÁRIO DE NOTÍCIAIS - LISBOA/PT


Portugal tem dos patrimónios “mais ricos do mundo em biodiversidade”. 
O trabalho para o proteger vai da conservação genética a projetos, 
com sotaque uruguaio, que se tornaram “uma missão de vida”. 

sexta-feira, 21 de março de 2025

RADAR JUDICIAL

POLICIAL FEDERAL: TRÁFICO INTERNACIONAL 

Josias João do Nascimento, 56 anos, policial federal aposentado, é chefe do maior esquema de tráfico internacional de armas no país. Ele foi alvo de operação da Polícia Federal na manhã de ontem, 20, com mandados cumpridos no condomínio Alphaville, na Barra da Tijuca, onde Josias mora. As investigações mostram que o esquema do policial enviou 2 mil fuzis de Miami para o Rio de Janeiro, com destino para as favelas do Comando Vermelho. A Polícia cumpre 14 mandados de busca e apreensão e, em um dos endereços, os policiais foram atacados com tiros e prenderam o homem em flagrante por tentativa de homicídio. A Justiça determinou sequestro e bloqueio de bens e ativos no valor de R$ 50 milhões.

JULGAMENTO DE ZAMBELLI 

O julgamento virtual da deputada federal Carla Zambelli terá início hoje, às 21.00 horas, com encerramento para dia 28, às 23.59 horas. Trata-se dos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma. A Procuradoria-geral da República apresentou denúncia, porque a parlamentar perseguiu com arma em punho o jornalista Luan Araújo, em outubro/2022, em São Paulo. A denúncia foi recebida pelo STF, em agosto/2023, quando teve início a ação penal. O ministro Gilmar Mendes é relator e votou pelo prosseguimento do processo; ele foi seguido pelos outros ministros. 

EX-MINISTRO É RÉU

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro tornou-se réu com o recebimento de denúncia oferecida pela Procuradoria-gera da República e aceita pela 10ª Turma do Tribunal Regional Federal. Trata-se de entrevista do ministro ao jornal Estado de São Paulo, em 2020, quando ele declarou que a causa do "homossexualismo" na adolescência são as famílias "desajustadas". Disse mais o ministro: "Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe". O relator do processo, desembargador federal Marcus Bastos afirmou que o STF equiparou o crime de homofobia ao de racismo. 

TRUMP INVESTE CONTRA O JUDICIÁRIO

O presidente Donald Trump e seus seguidores estão afrontando os juízes que decidem qualquer contra os absurdos decretos emitidos pelo Executivo, violadores da lei. Fala-se até em suposto "golpe judicial em andamento", segundo comentou conselheiros da Casa Branca. Essa alegação de golpe une manifestações do bilionário Elon Musk e o estrategista Steve Bannon. O conselheiro Stephen Miller, em entrevista à CNN, foi além para declarar que um juiz federal não tem autoridade para determinar de que forma o governo deve fazer as deportações. 

Santana/Ba, 21 de março de 2025.


Antonio Pessoa Cardoso

Pessoa Cardoso Advogados. 




SAIU HOJE NO ESTADÃO

OPINIÃO DO ESTADÃO

 

A república bananeira de Trump

Um presidente arbitrário, uma administração entregue a um bilionário e um governo que desdenha do Estado de Direito: tudo isso definia uma república bananeira. Agora, é o que define os EUA


Recentemente o presidente dos EUA, Donald Trump, parafraseou Napoleão em suas redes sociais: “Quem salva o seu país não viola nenhuma lei”. Mas o que acontece se o Judiciário discordar? Nos quase 250 anos da república norte-americana, este nunca foi um problema, porque nenhum presidente desobedeceu a uma ordem judicial. Mas Trump, o primeiro criminoso condenado a exercer a Presidência americana, veio para destruir as tradições – e, com elas, o Estado de Direito, o esteio da república. Em seu segundo mandato, Trump está testando como nunca os limites do Poder Executivo, e o risco de um impasse constitucional é cada vez maior.

No caso mais recente, que certamente não será o último, Trump invocou uma lei de 1798 para deportar membros de uma gangue venezuelana para El Salvador. A mencionada lei, que só se presta a tempos de guerra e foi aplicada pela última vez na Segunda Guerra Mundial, permite expulsar inimigos estrangeiros. Segundo o governo, a medida se justifica porque a tal gangue venezuelana está em “guerra” contra os EUA.

Não foi o que entendeu um juiz federal, que ordenou o cancelamento da deportação até que os referidos estrangeiros tivessem o tratamento judicial consoante o Estado de Direito – isto é, que fossem submetidos ao devido processo legal, em que cada um sabe exatamente do que está sendo acusado e pode se defender. Nada disso aconteceu: nem os acusados tiveram qualquer chance de se defender, nem a ordem do juiz foi obedecida. Os deportados foram enviados para as masmorras de El Salvador, governado por Nayib Bukele, aquele que reduziu a criminalidade no país acabando violentamente com o Estado de Direito. Não à toa, Trump celebrou seu colega salvadorenho: “Não esqueceremos!”.

Oficialmente, o governo Trump afirma que não desobedeceu a ordem nenhuma, mas o responsável pela política de imigração dos EUA, Tom Homan, foi claro em entrevista à Fox News: “Eles não vão nos impedir. Não vamos recuar. Não me importo com a opinião dos juízes nem com o que pensa a esquerda. Nós vamos avançar”. Em seguida, o próprio presidente Trump demandou o impeachment do juiz que deu a ordem, classificando-o de “lunático da esquerda radical”.

Trump foi repreendido pelo presidente da Suprema Corte americana, John Roberts, que, em raríssima manifestação pública, disse que “impeachment não é a resposta apropriada quando se discorda de uma decisão judicial”. Não é, mas Trump e seus devotos aparentemente não dão a mínima para o que é apropriado. O vice-presidente J. D. Vance já disse que “juízes não têm permissão para controlar o poder legítimo do Executivo”, uma fórmula ambígua que, de um lado, exprime uma platitude sobre a separação de Poderes e, de outro, insinua que quem decide o que é legítimo é o presidente, como nas monarquias absolutistas.

Movido por esse espírito, Trump, invocando leis obscuras e conceitos vagos como “segurança nacional”, está tentando revestir de legalidade ações francamente contrárias ao espírito constitucional. É o caso da prisão de um imigrante legal que liderou protestos contra Israel na Universidade Columbia. Não se sabe exatamente do que o imigrante é acusado – o governo ora diz que atua para conter o antissemitismo, ora afirma que há relação entre o imigrante e o grupo terrorista Hamas. Mas a acusação formal, qualquer que venha a ser ela, não importa: o objetivo é constranger a livre manifestação do pensamento.

Do mesmo modo, Trump nem se deu ao trabalho de dar algum verniz legal à ação truculenta do bilionário Elon Musk na administração pública americana. Sem cargo oficial, Musk ganhou carta branca para demitir quem quiser, para ter acesso a dados sensíveis e para asfixiar agências que deveriam funcionar por determinação do Congresso, numa escandalosa intromissão privada na máquina pública e na soberania popular do Legislativo.

Decisões arbitrárias e ilegais do presidente, loteamento da administração pública para empresários amigos do poder, desdém absoluto pelo Estado de Direito, tudo isso é o que costumava definir uma república bananeira. Agora, é o que define os EUA – o outrora “farol da democracia”.

MUSK, PERSONA NON GRATA

A ira do americano contra o extravagante Elon Musk assume proporções inusitadas e para celebrar esse cenário falta apenas a concessão para ele do título de persona non grata. Acontece que o protetor de Musk é o próprio presidente Donald Trump que hoje, 21, abrirá o plano militar dos Estados Unidos, através do Pentágono, para enfrentar eventual guerra contra a China. Sobre o acesso ilimitado de Musk, na rede social Truth Social, Trump declarou, ontem: "A China nem sequer será mencionada ou discutida". O acesso de Musk a segredos militares importa em "expansão dramática de seu já extenso papel como conselheiro do presidente Donald Trump". O bilionário goza de extrema antipatia do povo americano porque é responsável pela redução de servidores e de políticas públicas do país. O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, em postagem no X, informou que a reunião será "sobre inovação, eficiências e produção mais inteligente". Acontece que Musk tem muitos contratos com o governo e continua na administração de suas empresas, em nítido conflito de interesses. Musk é principal fornecedor do Pentágono, além de possuir altos investimentos na China. 

O jornal New York Times não obteve informações solicitadas sobre a visita de Trump, acompanhado de Musk. A Casa Branca também não informou sobre eventual dispensa de conflitos de interesse para Musk, tamanha é sua penetração no governo. O porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, Sean Parnell, em comunicado disse: "O Departamento de Defesa está animado para receber Elon Musk no Pentágono na sexta-feira. Ele foi convidado pelo secretário (Pete) Hegseth e está apenas visitando". Altas autoridades, na visita de Musk, vão informar-lhe sobre o plano dos Estados Unidos para enfrentar a China, se houver algum conflito militar. A visita a este importante órgão de defesa americano mostra a inusitada autoridade, concedida por Trump para o homem mais rico do mundo. Ademais, Musk não figura no comando militar e muito menos é conselheiro oficial de Trump para assuntos militares. A interferência de Musk no governo americano é tamanha que já solicitou ao Pentágono para suspender compras de jatos de combate F-35, fabricado por um dos seu concorrentes, com custo de mais de US$ 12 bilhões por ano.  Além de tudo isso, Musk é investigado pelo inspetor-geral do Pentágono acerca de questões de uso da autorização de segurança de alto nível que ele possui.  



DECRETO ELIMINA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

O presidente Donald Trump, em revisionismo impressionante, assinou ontem, 20, mais uma ordem executiva que elimina o Departamento de Educação, com função semelhante ao Ministério da Educação no Brasil. O ato presidencial é apoiado pelos republicanos que visualizam nas escolas "campo de batalha contra ideais progressistas". Anteriormente, o presidente orientou a secretária Linda McMahon a começar a desfazer o Departamento, porque "vamos eliminá-lo. Vamos fechá-lo o mais rapidamente possível". O Departamento foi criado por ato do Congresso no ano de 1979; para que haja cumprimento do ato presidencial haverá de ser submetido e aprovado pelo legislativo. A lei assegura que o Departamento deve "contemplar responsabilidade como um Escritório de Direitos Civis e um Escritório de Educação Elementar Secundária". 

Outras ordens executivas do presidente Donald Trump foram barradas no Judiciário e a expectativa é que também esse decreto não será efetivado, porque a Suprema Corte deve suspendê-lo. A decisão de Trump, no sentido de fechar um departamento federal, nunca ocorreu antes, tornando-se, portanto, manifestação inédita. A secretária Linda McMahon aplaudiu o posicionamento dos democratas, sob fundamento de que Trump "não poderia encerrar o departamento".