Uma das profissões mais antigas, o
professor devia ter nas escolas todos os instrumentos necessários para poder contribuir
com a educação do povo; ao revés, mal possuem as ferramentas para cuidar da
instrução. Falta-lhe digna remuneração, condição de trabalho, respeito, treinamento,
reciclagem.
A educação infantil, o ensino fundamental até o ensino superior são os
responsáveis pela formação do cidadão do amanhã e quem mais concorre mais para
isso, induvidosamente, são as professorinhas, responsáveis pelos primeiros
ensinamentos, abrindo as mentes infantis para descobertas de um novo mundo.
Quem não se lembra de sua primeira professora! Se guardamos
reminiscência desse longo tempo que ficou para trás é porque influenciou muito
nossas vidas.
O cidadão letrado passou pelos
bancos escolares e aprendeu a ler e escrever, a respeitar o outro, através da
professorinha, da pró. Com ela conviveu, em certos casos, mais intensamente do
que com a própria família.
A professorinha, no interior, gozava de significativa autoridade sobre
as famílias e sobre a sociedade local. Sua situação social era singular e
repercutia até mesmo na vida sentimental. Casava cedo, e gozava de boa condição
econômica no meio em que vivia. O quadro de professores do infantil e do fundamental
era, em sua maioria, composto por mulheres. Pedagogia não era do interresse dos
homens. A labuta, em sala de aula, o estudo para aperfeiçoamento profissional,
a correçao de provas, a avaliação de trabalhos, o controle de frequência e o
registro de notas, em casa, exigia muita dedicação e perserverança. Por tudo isso,
ganhava a simpatia da comunidade.
O declínio da profissão deve-se fundamentalmente aos baixos salários, ao
modelo de ensino massificado pelas salas de aula apinhadas de alunos, com os
professores mal pagos, humilhados e desvalorizados.
Hoje a professorinha está sozinha, impotente e sem autoridade para
garantir a disciplina, fundamentalmente, porque não encontra amparo nem mesmo
junto à direção da escola onde ensina, vez que maior o proveito quando se dispensa
atenção ao aluno, fonte de renda, de voto e de bons negócios. Entre o aluno
rude e rebelde e a professorinha humilde e competente maior prestígio para o
capital, representado pelos altos valores que se paga nas escolas particulares.
As escolas tornaram-se máquinas de fazer dinheiro ou voto, desviando-se
de outra vocação mais consistente e segura de engenho apto a fazer bons
cidadãos e bons profissionais. O resultado da opção seguida é um a
transformação para um mundo cheio de violência, de corrupção e de desrespeito.
Os valores do capitalismo engoliram as benesses das comunidades,
influenciadas pela mídia que criou a aldeia global.
Grande parte dos segmentos da sociedade, na área privada ou pública, no
campo político, jurídico ou empresarial, desconsidera o alto valor da missão
das professorinhas.
Esse descompasso aparece com a falta de educação, de cultura e de futuro
para os jovens. Já se disse que não há país civilizado sem boa educação e não
há boa educação sem bom professor.
Além desses problemas externos, esses profissionais sofrem com o
estresse do dia a dia da carreira, com obrigações dentro e fora da sala de
aula. E quando, vencidas pelo desgaste da atividade, aposentam-se, na certeza
de colher frutos para compensar o intenso e sacrificado trabalho desenvolvido
durante anos; ledo engano, porque encontram os malefícios da redução do
salário, queda-se no desespero de uma vida dificil, porque sem força para gritar
pelos seus direitos, surripiado inclusive pela invenção dos governantes do fator
previdenciário.
A politica de melhorar a educação perde-se nos discursos vazios e nas
incoerências dos governantes; a valorização do magistério é inversa, porque
situada na condição de reunir governadores e buscar os tribunais para celebrar
pacto de redução de salários ou conseguir decisões que implicam em derrubar o
piso salarial.
Não foi assim sempre, pois, a começar pela remuneração, mostrava-se
suficiente para oferecer uma vida digna e apta a manter a família.
Não se quer dizer que naqueles tempos, havia valorização da classe dos
professores; não é isso. Todavia, os mestres de antanho, não encontravam, em
salas de aula, xingamentos, rispidez, não ouviam comentários obscenos, não eram
furados com lápis, lesionados com faca, nem mortos com revólver.
As punições arbitrárias, a exemplo
da transferência das profesorinhas da sede do município para a zona rural ou o
corte de vantagens acumuladas no curso do tempo e garantidas pelas leis, são
providências arbitrárias que se prestam para usar a educação como trampolim para
subir na vida política eleitoral.
Anos atrás, havia um programa na televisão, denominado “Sai de Baixo”, e
o bordão usado por um personagem era: “Por favor, salvem a professorinha”. Esse
grito merece ser retomado, não na expressão humorística de Caco Antibes, mas no
anseio de uma sociedade que esquece seus mais completos valores, simbolizados nas
professorinhas.
Salvador,
junho/2014.
Antonio
Pessoa Cardoso.
OAB 3.378
Amei esse artigo, é a mais pura realidade da vida dos professores.
ResponderExcluirComo sempre o senhor foi brilhante em seus relatos, me via em cada um deles enquanto lia. Abraços!!
Cilandia Monteiro.