O servidor do Judiciário é bastante explorado, em sua
atividade funcional, mas não há missão mais desgastada, mais depreciada do que a
de magistério, em qualquer nível.
Outro dia, descrevi sobre a “professorinha”, título que
uso com muito carinho, para mostrar as injustiças que se praticam contra nossas
mestras.
Aqui vai a descrição da visita que fiz a uma professorinha,
em uma escola rural, no oeste da Bahia.
Quanta alegria senti e quanta alegria transmiti!
O lugar está distante da sede da cidade em torno de 5
(cinco) quilômetros e a professora, Lúcia Helena, é dessas pessoas determinadas
e abnegadas pelo que faz; desloca-se todos os dias, por volta das 7.00 hs, para
a escola municipal Ernesto Ferreira da Silva, homenagem a um ruralista, nascido
e criado em Baraúna. Nessa unidade escolar, fundada em 1981, Lúcia junta-se a sua
colega, professora Edcássia Rodrigues, que reside nas imediações, suas
auxiliaries Maria Glória e Célia Lopes, mais 39 (trinta e nove) crianças, num
ambiente acolhedor, higiênico e onde está seu mundo, sua alegria, seu motivo de
viver; o contentamento é contagiante para todos. A professora só retorna para
casa no fim da tarde, mas já volta pensando no dia seguinte.
Na verdade, o prédio não foi sempre limpo, pois, no
início, era ocupado por morcegos que voavam em todas as salas, de tal forma que
muitos alunos desistiram de estudar, porque amedrontados, ainda mais quando
tomaram conhecimento de que esse mamífero nutre com o sangue das pessoas,
apesar de apenas 3 (três) das 1000 espécies, serem hematófagos, ou seja,
alimentam-se exclusivamente de sangue.
A professorinha, com ajuda do povo, conseguiu melhorar, higienizar
e iluminar o ambiente escolar, conquistando, dessa forma, afugentar com os
morcegos e baratas, tornar o prédio perfeitamente adequado para recebimento das
crianças, que retornaram, agradando aos seus pais, que adoram as providências
da professorinha.
Mas vamos à visita.
Aconteceu na parte da tarde e as crianças já esperavam
pelo visitante, que agendou o comparecimento a à Baraúna na véspera; do lado de
fora do prédio, devidamente uniformizados e enfileirados, comandados pela
professorinha, iniciou-se a solenidade de recebimento; cantaram “Acolhida”, que
emocionou a todos.
Fomos para a sala de aula e os alunos sentaram-se nos
seus lugares, em cadeiras novas e limpas. Cantaram: “Meu Galinho” e outras
músicas. O domínio das letras era absoluto e o entusiasmo da “meninada”
entusiasmava a todos.
O contato direto e a dedicação da professorinha para com
os alunos mostra o crescimento educacional deles. É motivo de orgulho para os
pais ter seus filhos sob os cuidados dessa professorinha.
Muito bonito!
A professora Lúcia foi a primeira a falar, relembrando
passagens da vida de professor do visitante no Educandário Diocesano Sant”Ana;
disse que foi sua aluna e contou passagens, a exemplo da descrição sobre o
tema: “um pingo d’agua”. Rememorou mais alguns fatos e o visistante “quase
desaba” de emoção.
As homenagens prosseguiram com a manifestação da
diretora, professora Marília, que teceu elogios à professorinha, assegurando
que a escola Ernesto Ferreira da Silva destaca-se pelo empenho e dedicação de
Lúcia; alguns meninos de idade media de 8 anos foram à frente e contaram
histórias, aprendidas em sala de aula, em admirável desenvoltura.
Em outra sala, a professorinha criou uma galeria dos mestres,
relembrando os antecessores, muito comum nos fóruns; em outro ambiente foi-nos
mostrada a biblioteca com livros doados; também lá estavam um televisor, um
mimeógrafo, mercê dos admiradores do trabalho de Lúcia; na última sala os
padrinhos da escola, com fotos do juiz de direito Fernando Paropat e do
visitante.
Certamente, em muitas cidades, em muitos distritos
encontram-se professorinhas no perfil de Lúcia Helena, que ensina a ler, a
escrever e a fazer contas, demonstrando possuir mais que vocação, viver um
sacerdócio, motivado por sua crença no futuro das crianças. Professorinhas como
Lúcia criam cidadãos, dão dignidade, caráter e moral, apesar de a sociedade
negar-lhe o reconhecimento pelo trabalho que promovem.
Salvador, 21 de agosto de 2014.
Antonio Pessoa Cardoso
PessoaCardosoAdvogados
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