sábado, 18 de outubro de 2014

UM CIDADÃO INDIGNADO

Na condição de estudante militante contra a ditadura de 1964, participante dos movimentos de ruas no Rio de Janeiro, ativista nas lutas dos bancários, funcionário da Petrobrás, advogado, juiz, desembargador e corregedor, não posso, não devo, não quero, nem devo omitir minha indignação, silenciar nessa travessia na qual o Brasil se encontra. 

Em todas essas ocasiões estive sempre com os mais fracos e nunca pertenci a nenhum partido político. 

Votei no PT em 2002, porque acreditei na promessa de moralização da política nacional. Todavia o partido abandonou os ideais decentes de seu nascedouro e embrenhou-se por vias tortuosas, abraçando lideranças corruptas e abominadas pela Justiça brasileira, pela mídia e pelos homens sérios do país: 

Collor, afastado da Presidência por corrupção, em 1992; 

Sarney, símbolo do atraso no Maranhão; 

Maluf, condenado e procurado pela Justiça americana;

Renan Calheiros, denunciado ao STF por crimes de corrupção, dirige o Senado Federal, porque assim quis o PT. 

Todas esses, e muitos outros líderes, não eram aceitos pelo PT, mas, para angariar apoio político, mesmo com a pecha de corruptos, estigmatizados pelo Judiciário, ainda assim tornaram-se políticos de absoluta confiança do governo. 

Os mais importantes dirigentes do PT, assessores do governo Lula, foram condenados e presos pelo STF, com o voto de 8 (oito) ministros, escolhidos pelo próprio Lula e um por Collor dos 11 (onze) que compõem a Corte. Portanto, não se pode afirmar que houve julgamento político:

José Dirceu, chefe da Casa Civil, no governo Lula;

João Paulo Cunha, deputado do partido e presidente da Câmara dos Deputados;

José Genoíno, deputado federal, substituto de José Dirceu na presidência nacional do PT, rejeitado para o Ministério da Defesa, mesmo com indicação do presidente Lula;

Delúbio Soares, tesoureiro nacional da CUT, depois do PT, coordenador das campanhas presidenciais de 1989 e 1998.

O questionamento maior é: como acontece roubalheira comprovada e julgada, na sua casa, na sua empresa ou em qualquer entidade sob sua direção e você nada sabe ou nada viu? E mais, como esses criminosos permanecem no partido se por muito menos, outros foram expulsos? 

Os homens decentes e escrupulosos, que ajudaram na criação do PT, abandonaram-no, decepcionados com os escândalos do mensalão, do Lava-Jato e tantos outros esquemas de corrupção:

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente; 

Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação; 

Plínio de Arruda Sampaio, autor do estatuto do partido; 

Hélio Bicudo, vice-Prefeito de São Paulo, pelo PT; 

Vladimir Palmeira, líder dos estudantes na passeata dos 100 mil, deputado federal constituinte pelo PT.

Esses e tantos outros respeitáveis homens públicos foram substituídos por gente que contribui para o partido desviar dos princípios da ética, da decência, da seriedade e do respeito ao patrimônio do povo. 

Nunca se registrou, “na história deste país”, um número tão grande de assessores e dirigentes de partido serem julgados, com ampla defesa, condenados e presos por corrupção; sabe-se de subornos deste ou daquele partido, mas não se vê nenhum com tantos líderes condenados e presos; assim, fica muito difícil acreditar que o ex-Presidente nada sabia ou não participou das falcatruas. Lula sempre foi sindicalista, de família pobre e um dos filhos, em pouco tempo, saiu da condição de simples escriturário para grande empresário, sem maiores explicações. 

Será que os ministros do STF, juntamente com outros tribunais, a exemplo do Tribunal de Contas, a mídia, órgãos internacionais, líderes de comprovada honestidade estão todos errados?

O Tribunal de Contas publica relatório sobre o sistema de compras do governo federal e anuncia que de “142.000 contratos do governo Lula, envolvendo gastos superiores a 100 bilhões de reais”, foram encontrados 80.000 indícios de irregularidades". 

A UNE de tanta história, presente em todas as lutas do povo, tornou-se uma repartição pública; está anestesiada, diante dos investimentos do governo nos eventos e encontros dos estudantes, que protestaram na defesa de José Dirceu, Delúbio e Marcos Valério; o ex-presidente da UNE, Lindberg Farias, um dos cara pintadas na derrubada de Collor, hoje é senador do PT, candidato a governador do Rio, derrotado, com insignificante votação.

A CUT e o PT foram às ruas contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e hoje não se fala em centrais sindicais, protestando contra o desemprego que já ocorre em grandes empresas. Os partidos, coligados com o PT buscam satisfazer interesses pessoais de seus membros e não se importam com a destruição do país. Querem o poder pelo poder. 

A Petrobrás tornou-se um antro de corrupção, o IBGE, serve para modificar estatísticas eleitoreiras, os Correios fazem campanha política, o Itamaraty guarda despachos da Presidência, em cerca de 230 acordos internacionais e aproxima, perigosamente, de países que demonstram aversão à democracia, a exemplo de Cuba, da Venezuela e de ditadores cruéis na África. 

O argumento da candidata, quando acusada de trapaças de seu governo ou de seus seguidores, não é de defesa, mas da jura de combate à corrupção, através do Ministério Público e da Polícia Federal, como se esses órgãos fossem dependentes da Presidência e não gozassem de autonomia; o diretor envolvido, nos escândalos da Petrobrás, deixou a empresa, sob aplausos da chefe do Executivo. 

Movimentação contra as fraudes seria comprovada se a governante apoiasse a CPI que investiga os imensuráveis desvios do dinheiro público ou se não reduzisse, no percentual de 8,2%, os repasses para a Controladoria-Geral da União; esse sim, órgão sob seu comando, responsável pela fiscalização dos municípios, que teve a equipe reduzida, desde 2008, em 727 servidores. 

O discurso de desativação do Bolsa-Família e outros projetos sociais, não defendida por nenhum dos candidatos, serve como bordão do golpe eleitoral, alicerçado na fraqueza do povo. 

A alternativa do momento é interromper o ciclo de 12 (doze) anos de um partido, responsável por tantos desmandos, para que haja alternância do poder, alicerçando assim a democracia; seria uma tentativa factual para a busca dos princípios da honestidade e da seriedade.

Salvador, 18 de outubro de 2.014

Antonio Pessoa Cardoso
Ex-Corregedor – PessoaCardosoAdvogados

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