O livro de Allan Percy e Prof. Leonardo Diaz, da
editora sextante, mostra a vida de um politico diferente, que diz o que pensa.
Mujica, um guerrilheiro tupamaro, que participou de
sequestos de politicos, além da tomada da cidade de Pando, nos anos de
1960/1970, tornou-se deputado, senador e presidente do Uruguai; preso, algumas vezes, 12 anos na cadeia, e, em
algumas penitenciárias era jogado em cubículos, sem janelas, sem colchão nem
cobertor; somente em 1985, dentre os oito refens que sobreviveram às torturas e
aos maus tratos, estava Mujica, aos 50 anos, que, libertado, falou para a
multidão para não alimentar ódio, mas enfatizou não acreditar na justiça
humana.
“Toda forma de justiça, segundo a minha filosofia
particular, é uma negociação com a necessidade de vingança”.
Em 1994, quase dez anos depois de libertado,
apresentou-se como candidato a deputado; exerceu o mandato entre os anos de 1995
e 2000, mas foi barrado, quando pretendia ingressar no Congresso, no primeiro
dia do exercício do mandato, porque sua roupa e seu perfil de agricultor fugiam
da feição dos deputados. Em 1999, Mujica obtém grande votação e é eleito Senador,
bastante popular, principalmente junto às camadas mais pobres do Uruguai. Foi
reeleito, tornou-se presidente do Senado e, em março de 2005, é nomeado
ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca. A agropecuária cresceu e
Mujica percorria o país em constantes diálogos com as organizações agrárias.
Mujica criticava a burocracia estatal e num dos seus
célebres discursos disse:
“A burocracia se mostrou pior que a burguesia, porque
pelo menos a burguesia tem um impulso criador – mesmo que seja para comer o seu
fígado. A burocracia vive só do que os outros já criaram; os uruguaios se
burocratizaram tanto que encheram as propriedades do Estado de gente e até
tinham um teatro, o Solis, com um funcionário para subir a cortina e outro para
baixá-la”.
Nas eleições de 1999, o mundo ficou estarrecido com a
possibilidade de um guerrilheiro tornar-se presidente da República do Uruguai. As
incontinências verbais de Mujica quase impedem de ganhar as eleições, mas teve a
maior votação já registrada no país; continuou falando o que pensa, fazendo o
que quer: dispensou todas as honrarias do cargo e continuou residindo na
chácara de Rincón del Cerro.
No discurso de posse, anunciou suas metas no governo:
educação, energia, meio ambiente e segurança. Disse que os governantes deveriam
ser obrigados a preencher em quadros-negros, todos os dias: “Tenho que cuidar
da educação”. O Uruguai foi projetado no mundo, mas Mujica não conseguiu implementar
as obras que pretendia; enfrentou a burocracia, reformando a carreira administrativa,
eliminando as velhas estruturas de cargos e estabelecendo um sistema mais
dinâmico; dizia que era preciso colocar os funcionários para trabalhar, porque
“30% ou 40% fazem tudo e o resto faz muito pouco”. Pretendia fixar o tempo de
trabalho do funcionário publico em 8 horas, mas não conseguiu.
Entre 2012 e 2013, o Uruguai foi vanguarda nas
regulamentações da legalização controlada da maconha, na lei de interrupção
voluntária da gravidez e na legalização do matrimônio igualitário. Mujica dizia
que “roubar o Mercado do narcotráfico é a melhor maneira de combatê-lo…”.
Sobre a pecuária afirmava que “em lugar de embaixadas
que não serviam para nada, esses edifícios seriam mais úteis como
“churrascarias uruguaias”, nas quais o mundo conheceria as maravilhas das
carnes do país”.
Mujica que não mudou sua vida simples, depois que
chegou à presidência, não se incomodava com a visita de jornalistas, vendo a
simplicidade de seu lar com camas por fazer e pratos deixados na pia. Expliava
que: ” Pobre não é quem tem pouco. Pobre é quem precisa de infinitamente muito
e deseja cada vez mais, é um costume de caráter cultural. O primeiro elemento
do meio ambiente é a felicidade humana”.
Sobre o consumismo:
“Parece que nascemos somente para consumir e, quando
não conseguimos, lidamos com frustração, pobreza e autoexclusão”. Disse mais:
“Destruímos as florestas verdadeiras e construímos florestas anônimas de
cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras ergométricas, a insônia com
pílulas, a solidão com aparelhos eletrônicos, porque somos felizes longe do
ambiente humano”; “a pobreza não vem pela diminuição das riquezas, mas pela
multiplicação dos desejos”; “os pobres são maioria e os ventres deles vomitam
filhos”.
A grande diferença de Mujica com os politicos, em
nível mundial, é a simplicidade de sua vida e sua modéstia, mesmo quando
dirigia o país. Não aceitou carros oficiais, nem a mansão presidencial, mas
preferiu viver como a maioria de seu povo. Dirigia seu próprio carro.
Esse é o retrato de um politico, chamado de bobo no
nosso meio, cheio de mordomia, corrupção e vícios que diminuem a nobreza da
atividade. Mas é um homem sério.
Salvador, 19 de outubro de 2015.
Antonio Pessoa Cardoso.
Pessoa Cardoso Advogados.
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