terça-feira, 23 de agosto de 2016

AS OLIMPÍADAS

Andrew Zimbalist, economista, especializado em esportes, no livro “Circus Maximus” assegura que o patrocínio de uma Copa ou de uma Olimpíada não é boa ideia. Diz que uma Copa e uma Olimpíada implicam nos gastos de U$ 10 a U$ 20 bilhões cada evento e o retorno não passa de U$ 5 bilhões, além das estruturas que ficam para ser mantidas. Informa em artigo publicado pela revista da Universidade Harvard que cada Olimpíada custa, em media 252% a mais do que o previsto.

O economista assegura que Atenas, Pequim e Sochi, na Rússia, endividaram bastante, além de espaços sem uso e dificuldades com a infraestrutura deixada. Critica o sistema corrupto dos comitês e que necessita de profundas reformas. A China gastou $ 40 bilhões para sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2008, em Beijing, e a Rússia teve despesa de $ 50 bilhões nos Jogos de Inverno de 2014. Os Jogos de Londres/2012 custaram U$ 18 bilhões, quando a previsão era U$ 6 bilhões. Segundo Zimbalist essa diferença da estimativa e da realidade explica-se pelo interesse das cidades-sede que apresentam orçamentos baixos para ganhar o apoio público. 

Aponta apenas duas Olimpíadas que tiveram retorno: Los Angeles e Barcelona. 

Muitos países recusam-se em aceitar as exigências do Comitê Olímpico Internacional, porque compreendem o grande fardo reclamado por esse magaevento; a Rússia, país com regime de força, sediará a próxima Copa do Mundo de 2018 e o Japão receberá a Olimpíada de 2020. Mas o próprio Comitê Internacional planeja mudar a ostentação dos Jogos a partir do evento em Tóquio 

Os países com governantes responsáveis recusam o patrocínio dessa comelança de dinheiro por parte dos Comitês Olímpicos. 

Em novembro/2013, o Comitê Olímpico de Estocolmo candidatou-se para que a Dinamarca sediasse os jogos de Inverno de 2022 junto ao Comitê Olímpico Internacional; posteriormente, o prefeito, partidos politicos, além do primeiro ministro Fredrik Reinfeldt desistiram, porque a conta era muito alta e haveria necessidade de investimento com o dinheiro do contribuinte. O prefeito, Sten Nordin disse que preferia gastar com mais moradias, com previdência e outras necessidades dos contribuintes. O jornal Dagens Nyheter, em dezembro, constatou, em pesquisa, que 59% dos entrevistados apoiavam a iniciativa do Comitê. 

Além dos custos exagerados, haveria uma série de instalações dispendiosas que ninguém usaria depois dos jogos. Um editorial do jornal Svenska Dagbladet dizia que “nenhum cientista se atreve a afirmar que a realização dos jogos beneficia de fato o mercado de trabalho e a economia local das cidades-sede”. Estocolmo sediou um evento olímpico há mais de um século, em 1912.

Boston, no estado de Massachusetts, em janeiro/2015 foi indicado pelo Comitê Olímpico Americano (American States Olympic Committee, USOC) para os Jogos de 2022; meses depois, pesquisa mostrou que a rejeição ao evento era de 53%. As redes sociais apresentavam dados e análises incoincidentes com o Boston/2014. A oposição ao evento, as redes sociais e a mídia cresceu, fazendo com que o prefeito Marty Walsh mudasse de opinião, não assinando no contrato, porque implicaria em gastos dos contribuintes. O USOC terminou retirando a candidatura de Boston. 

A cidade de Munique pretendeu sediar os Jogos Olímpicos de 2022, mas antes promoveu um referendo popular e 52% dos cidadãos ouvidos rejeitaram a ideia. A imprensa alemã noticiou que a preterição ocorreu por causa dos altos custos, além das exigências do Comitê Olímpico Internacional. Pedro Trengrouse, especialista em Gestão, Marketing e Direito no Esporte, diz que os Jogos Olímpicos “são um bom negócio para o COI (Comitê Olímpico Internacional), mas nem tanto para o país sede”. Acrescenta que “quando se faz plebiscito sobre sediar a Olimpíada, o povo responde que não, como aconteceu em Hamburgo, Munique, Oslo”. 

O Rio de Janeiro passou por verdadeiro colapso das finanças e, pouco antes da Olimpíada, em junho, foi obrigado a decretar estado de calamidade pública, pretexto burocrático para transferir verbas do governo federal para o Rio. Até junho/2016, o gasto já chegava a R$ 39.1 bilhões.

Segundo os especialistas, as pessoas que moram nas favelas e os contribuintes são lesados, em favor dos Comitês, da especulação imobiliária, de seguros. As linhas de metrô e BRT não foram construídas para facilitar a mobilidade do carioca, mas precipuamente para o deslocamento entre as regiões olímpicas. Bem verdade que alguns bairros aproveitarão dessa estrutura deixada pela Olimpíada, mas os bairros pobres não terão benefício algum. 

Os patrocinadores preocuparam-se com a Olímpiada do Rio, principalmente pelo grande número de assentos que ficaram vazios. É que as pessoas preferiram assistir pela TV ou internet. Ademais, em torno de 500 mil ingressos não foram vendidos, o dobro do encalhe ocorrido em Londres/2014. 

Calcula-se que o Rio de Janeiro vai gastar cerca de R$ 1 bilhão no Parque Olímpico após as Olimpíadas. O edital de concessão do Parque já foi publicado e o Rio se dispõe a pagar pouco mais de R$ 800 milhões para o administrador zelar pelo Centro Olímpico de Tênis, pelo Velódromo Olímpico e pela Arena Carioca 1, 2 e 3. São despesas com adaptações do Parque e com a manutenção de cinco arenas esportivas. 

Não se encontra explicação para tanto gasto com entretenimento e abandono total dos investimentos na saúde, educação e segurança do brasileiro. O legado da Copa/2014 mostra os danos causados ao país: construções superfaturadas, 8 estádios praticamente abandonados, obras de mobilidade urbana não concretizadas. 

Junte-se as despesas com a imponente cerimônia de abertura e de encerramento, a segurança e outros custos que não ficam com o país sede. Praticamente tudo se acaba com o encerramento do evento.

Se é desgastante sediar uma Olimpíada, imagine-se para receber a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016, como ocorreu com o Brasil!

Salvador, 23 de agosto de 2016.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.

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