Pesquisar este blog

quinta-feira, 9 de julho de 2020

GAROTO PROPAGANDA

O presidente da República Jair Bolsonaro não tem sabido preservar a postura do cargo que ocupa. Em muitos momentos, seus atos podem ser classificados, no mínimo, como instigação ao crime, a exemplo, do comparecimento às manifestações de seus apoiadores com faixas, reclamando o fechamento do Congresso, do STF, com a edição de novo AI-5 ou o proselitismo para implantação de uma ditadura, em nítido procedimento antidemocrático. Na área sanitária, há radical desvinculação do presidente com a defesa da saúde do povo, mitigando e até mesmo sabotando as medidas sanitárias recomendadas pelos técnicos.

De nada valem as orientações de seus assessores sobre o perigo da Covid-19, pois Jair Bolsonaro expõe sua saúde e a dos cidadãos ao sair sem máscaras, ao desdenhar da epidemia, abraçando crianças e cumprimentando adultos, como se não vivêssemos com essa terrível praga, responsável pela morte de milhares de brasileiros. Na semana anterior ao teste positivo, esteve na Embaixada americana com assessores e convidados do embaixador, festejando data que não é sua nem do povo brasileiro, que vive no sofrimento, lamentando as mortes de familiares.

Esses atos soam estranhos, porque, sem motivação alguma e causam indisposição e afastamento dos seus ministros; a indicação e defesa do uso de tal ou qual medicamento na cura da Covid-19 distancia ainda mais dos cuidados recomendados pelos dois últimos titulares da pasta da saúde; afinal, o presidente tem conhecimentos médicos ao ponto de receitar e defender publicamente o uso de remédios para curas de tais ou quais doenças? Os dois ministros que deixaram o governo o fizeram exatamente por essa razão, ou seja, Jair Bolsonaro movimentar-se para admitir o protocolo da cloroquina no Ministério da Saúde, sem consultar o titular da pasta; o último ministro, também competente, não permaneceu no cargo nem trinta dias; há mais de um mês, o Brasil, a despeito do coronavírus, navega com um general na saúde, sem conhecimentos específicos e ainda assim como interino no cargo tão importante, na atualidade.

Mas o estarrecimento com os fatos acontece, quando o presidente é acometido da doença, testado positivo, e mesmo depois dessa ocorrência, continua a conceder entrevistas, além da prática de outros atos, sem uso da máscara, além de pousar e publicar foto, tomando a cloroquina e assegurando que está se sentindo bem com o medicamento, condenado pela OMS e por grande parte dos médicos do Brasil. Aliás, um seu assessor publicou no Twitter que o presidente merecia "cachê do fabricante da cloroquina”. Logo que o presidente for curado, certamente, a propaganda e o cachê aumentarão substancialmente, mas essa não é postura de um presidente, mais adequada para um garoto propaganda; afinal, os gestos e posicionamentos do presidente são admirados e seguidos por boa parcela dos brasileiros, que não terão o mesmo tratamento médico, se por acaso aparecer efeito colateral, com a ingestão da cloroquina, perfeitamente provável, segundo os profissionais da área.

Essa doença do presidente fez ressuscitar a falecida cloroquina, decretada por estudos científicos; será que o presidente não percebe que sua conduta, consistente em automedicar-se ou em fazer publicidade de medicamento, mostra-se absolutamente incompatível para quem foi eleito para comandar todos os brasileiros? será que não percebe que esse procedimento é mais pertinente para o laboratório e nunca para o presidente de uma nação?

Salvador, 07 de junho de 2020.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário