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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

OS ABSURDOS DO COTIDIANO!

Em suas correspondências, agrupadas no livro Todas as Cartas, a celebrada escritora Clarice Lispector fala sobre "os absurdos do cotidiano". São as adversidades e lugar comum nos tempos presentes. No Brasil e no mundo, registram-se fatos incompreensíveis e inadmissíveis, mas se tornam triviais e permanecem até que a população "consuma" e aceita como ocorrência natural. Os absurdos do cotidiano é o dia a dia do Brasil, registrados em todos os segmentos dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Não se esgota em um trabalho "os absurdos do cotidiano", mas apenas rememora-se alguns deles e alimentaremos a dúvida de serem verdadeiros.

Nos dias presentes, como admitir que um senador da República seja apanhado em flagrante com volume de dinheiro escondido na cueca; e o pior é a explicação de que portava o recurso para efetuar pagamento de funcionários. Mas, a história não para por aí, pois o presidente do senado, além do presidente da comissão de ética encontram um caminho para blindar o criminoso, que pede licença, é suspenso seu afastamento pelo STF e o senado não se obriga a decidir nada sobre o evento. E quem vai assumir a vaga do senador da cueca nesses 121 dias de afastamento? Seu próprio filho, que é seu suplente. O outro senador, filho do presidente, deverá responder a processo pela prática da denominada "rachadinha", que nada mais é do que nomear servidores para seu gabinete e receber a maior parte do salário, porque os funcionários obrigam-se a fazer o repasse. 

O respeito pelo presidente da República situa-se no próprio cargo e na sua liturgia, mas também na  conduta do homem público, que dirige a nação; todavia, atualmente, é lamentável o procedimento do chefe da nação. Não se explica o comparecimento do presidente a movimentos de protestos de seus apoiadores, que pregam o fechamento do Congresso Nacional ou que reverberam o grito de prisão para os ministros do STF. Aliás, o então ministro da Educação do governo atual declarou em reunião com o presidente Jair Bolsonaro que os ministros são uns "vagabundas" e pregou prisão para eles. Mas o que fez o presidente? Deu-lhe um cargo de alta respeitabilidade nos Estados Unidos, para onde se deslocou, temendo inclusive processo e prisão. É a prevalência da insensatez na República. 

Que dizer sobre a propaganda do presidente, exibindo uma caixa de hidroxicloroquina nas TVs, e assegurando que tomou o remédio e é adequado para combater o vírus da Covid-19? Assim procede mesmo depois que a OMS proclama a inutilidade do medicamento para atacar o coronavírus. Mas o absurdo não ficou por aí, porquanto o presidente determinou a suspensão de compra da vacina, somente porque fabricada na China. O argumento que usa é de indispensável atestado científico de sua utilidade. Mas como? Ali, ele receita o medicamento e não considera a orientação médica, aqui exige autorização dos órgãos competentes! Descobre-se que todo o imbróglio na importação da vacina, autorizada pelo Ministro da Saúde, justifica-se na inusitada prevalência da posição ideológica e eleitoral dos personagens, envolvendo o governado de São Paulo, concorrente de Bolsonaro em 2022. 

Salvador, 20 de outubro de 2020.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.

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