Em Dubai |
No terceiro ano, estagiei na Defensoria Pública do Rio de Janeiro, numa Vara Criminal que se localizava na avenida Getúlio Vargas, antes da praça da República. Em pouco tempo, passei a merecer confiança dos defensores públicos, que me passavam denúncias para serem formuladas. Todavia, nunca me identifiquei com a área criminal, pois preferia o cível ou trabalhista. No curso de Direito, eu não era o primeiro aluno da classe, mas sempre obtive aprovação em todas as matérias, durante os cinco anos. Como se vê abaixo, além da faculdade, eu trabalhava nos dois turnos, e sobrava-me parte da noite e fins de semana para estudar. Participava intensamente dos movimentos estudantis, mas não descuidava de estudar, porque programava concluir meu curso e voltar para a Bahia, a fim de exercer a profissão.
Em 1968, submeti, juntamente com meu irmão Ademar, a um concurso na Petrobras; a concorrência era absurda e não me lembro quantos candidatos para cada vaga, mas sei que mais de 50 x 1. O certo é que nós dois fomos aprovados e Ademar diplomou-se em medicina e tornou-se médico, em Mar de Espanha, cidade mineira, e eu advogado. Aprovado no concurso, evidente que a situação melhorou, porquanto antes eu tinha dois empregos, num jornal, pela manhã, e num banco à tarde. Ademais o salário era compensador e limitava-me ao trabalho na Fronape, divisão da Petrobras, localizada nas imediações do aeroporto Santos Dumont, e ao estudo na Faculdade que ainda hoje funciona na praça da República, no denominado largo do Caco, que era nosso centro acadêmico, manobrado por gente da ditadura.
Os anos na Faculdade foram conturbados e eram constantes os desentendimentos entre os estudantes e a polícia. O pior e mais complicado era que, em cada sala de aula, havia um "policial", os dedos-duros, denominação dada aos agentes, que frequentavam as aulas como se fossem alunos, mas, na verdade, buscavam denunciar aos seus superiores nossas movimentações. Tive a felicidade de ser um dos poucos alunos que nunca foi preso, mas narrei algumas passagens de minhas práticas no movimento estudantil. No artigo "O Massacre da Praia Vermelha", aqui publicado, mostrei, com riqueza de detalhes, sobre a violência policial contra os estudantes.
Anteriormente, disse que fui orador da turma, composta por mais de 300 formandos; nossa diplomação deu-se no prédio do antigo Automóvel Clube, na rua do Passeio, no centro do Rio. Naquela época, o orador era escolhido por uma comissão de professores e alunos e depois fazia um discurso para apreciação dos formandos e da comissão. Assim, era selecionado o orador da turma. O assunto do discurso para apreciação era de livre escolha do candidato. Em trabalho anterior, tracei detalhes sobre os concorrentes. Eu saí bem nesta "prova" e para minha alegria e surpresa fui escolhido orador da turma de 1970. A vitória foi maior, porque eu não frequentava a turma matutina, diferentemente dos outros candidatos que tinham amigos nesta turma e portanto mais votos. Também neste blog está o discurso que pronunciei e que fui bastante aplaudido, principalmente porque não submeti minha exposição à direção da Faculdade, como era comum, naquele tempo. Foi um ato de rebeldia que meus colegas aprovaram.
Depois de seis anos no Rio de Janeiro, formei-me em Ciências Jurídicas pela então Faculdade Nacional de Direito e, na solenidade de formatura, estavam meus irmãos Ademar que se tornou médico, José Luis, hoje magistrado no Tribunal de Justiça da Bahia. Meu pai, minha madrasta e minha atual esposa, Maria Eurly, deslocaram-se de Santana para este evento e era visível a alegria deles, quando verificaram que eu estava representando todos os alunos, com o discurso da formatura.
Salvador, 21 de novembro de 2020.
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