sábado, 20 de março de 2021

COLUNA DA SEMANA

PRESIDENTE QUER GOVERNAR "MONOCRATICAMENTE"

O presidente Jair Bolsonaro não interrompe sua caminhada no sentido de espalhar asneiras, pelo país afora, dentre outros temas, ironizando e banalizando o vírus da covid-19, que se aproxima de causar a morte de 300 mil brasileiros. Difunde suas toscas ideias nas redes sociais, na imprensa, mas principalmente para seus apoiadores, onde imagina que fala para representantes do povo. As recentes manifestações de seus seguidores com protestos contra as medidas de contenção da covid-19, a exemplo dos lockdowns, do toque de recolher ou do fechamento do comércio, deu continuidade com ação judicial, proposta pelo próprio presidente, para obter do STF a declaração de inconstitucionalidade das diligências tomadas pelos governadores e prefeitos. Questionou, na ação, apenas três governadores do nordeste, sem incluir Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e muitos outros estados que tomaram as mesmas providências. Aliás, seria o caso também de incluir a Volkswagen que suspendeu a produção de veículos e mandou para casa os funcionários pelo agravamento da pandemia. Na petição, o presidente alega que os chefes de executivos locais estão "matando" a população. Bolsonaro declarou para os lunáticos, na frente do Palácio, ainda seguidores de seus "ensinamentos", que: "seu Exército não iria ajudar governadores e prefeitos a manterem as medidas de contenção nem por ordem do papa".   

Uma das duas sandices, o presidente pôs em prática, consistente na busca do Judiciário e até convite ao presidente Luiz Fux para participar de sua insana cruzada; Fux recusou, mas Bolsonaro aguarda apoio da Corte, para barrar o controle da pandemia, executada por governadores e prefeitos. Certamente, o STF não embarcará nesta canoa furada do chefe da Nação. A outra tontice almejada pelo presidente e por seus filhos situa-se na busca de poderes, para, "monocraticamente", decidir como chefe do executivo, do judiciário e do legislativo, através da expedição do decreto do estado de defesa, medida extrema que já mereceu repúdio de parlamentares e de vários segmentos da sociedade. As deliberações mais duras contra a difusão da covid-19, anunciadas pelo presidente, sustenta-se exatamente na ânsia que alimenta de governar, sem prestar contas aos outros poderes. 

Sem dúvida, temos no governo um homem completamente despreparado, que desembarcou no Palácio do Planalto pela crença popular nas fake news, embasadas na fé de que o candidato iria combater a corrupção, governar sem o toma-lá-dê-cá, incrustado entre os congressistas, fincado no seu estado de religiosidade, na sua propalada simplicidade, exibindo o café em casa em mesa comum sem nenhuma sofisticação ou com caneta big, e outras atitudes profundamente demagógicas e mentirosas que ele, com seu filho Carlos e auxiliares, souberam usar e aproveitar, em 2018. Já se comprovou que Bolsonaro não possui a inocência de ser incorruptível e os fatos são muitos: amizades com milicianos, participação na rachadinha, interferência na polícia federal para obtenção de benefícios, fidelidade de atuação de deputados e senadores condenados ou investigados por crimes, além de inúmeras outras posturas. Mas, o pior erro do presidente, desencontrado entre outros governantes, e que mostra sua mente doentia, funda-se na sua absoluta irresponsabilidade com a vida dos brasileiros. Não se alonga muito neste particular, mas basta citar a passagem pela pasta da Saúde, em plena pandemia, em apenas dois anos, de quatro ministros, três dos quais médicos; todavia o que mais tempo permaneceu foi o general inteiramente despreparado para o cargo. 

Salvador, 20 de março de 2021.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.   

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