terça-feira, 30 de março de 2021

PRESIDÊNCIA COMPARTILHADA

O presidente Jair Bolsonaro já não governa sozinho. Não tem partido, não tem apoio dos governadores e muito menos do Congresso; o povo, como mostram as pesquisas, reprova seu governo ao ponto de rebelar-se contra a verdadeira devastação de vidas, através do posicionamento irresponsável e insensível diante da crise da pandemia, causadora da morte de mais de 300 mil pessoas no Brasil; a insurgência foi seguida de grande panelaço em muitos estados e os empresários também posicionaram-se contra o descaso do governo que leva a economia de roldão.   

A desintegração tornou-se acentuada depois que o Centrão integrou o governo e passou a mandar, principalmente, com duras declarações dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira ameaçou Bolsonaro com a expressão: "erros primários, desnecessários e inúteis na condução do combate à pandemia não podem ser mais cometidos. Os remédios no Parlamento são conhecidos e são todos amargos, alguns fatais". O recado dado serviu para o presidente escolher a deputada Flávia Arruda, esposa do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, amigos de Lira, além de substanciais mudanças no ministério. 

O entendimento foi de que o processo de impeachment pode ser iniciado. Os parlamentares já não aceitam a letargia do governo no combate à pandemia e no despreparo de alguns ministros. Assim, foi defenestrado o ministro da Saúde Eduardo Pazuello que permaneceu mais de um ano, muito mais pela subserviência às diretrizes do presidente do que por conhecimento técnico da área, que era nenhum; sua incúria, causou a morte de muitos brasileiros. Agora, o cenário é semelhante com o ministro do Exterior, Ernesto Araújo, há mais de dois anos no cargo, apesar de seu completo despreparo para a função diplomática; ele se manteve somente pela completa dependência ao presidente e ao seu filho Eduardo Bolsonaro. Também ontem, José Levi deixou a Advocacia-geral da União, tornando o terceiro desfalque nos ministérios. Aliás, os filhos do presidente são os orientadores na escolha dos ministros e acabam indicando os piores, consultando apenas o grau de amizade com a família.

Enquanto o ex-ministro da Saúde dificultava o trabalho dos governadores, seguindo à risca orientação do presidente, Ernesto Araújo constituiu obstáculo para diminuir o conceito do Brasil na área diplomática no mundo; tratou a vacina chinesa de comuna vírus, além de outras agressões, que inviabilizaram a aquisição da vacina contra a covid-19. A grande surpresa deu-se na demissão do ministro da Defesa que se acredita querer Bolsonaro alguém sem independência, mas disposto a fazer o que ele manda, como eram Pazuello e Ernesto.

O presidente foi ingrato com seus fiéis amigos na conquista do Palácio do Planalto. Assim é que Gustavo Bebiano foi apeado do cargo, por fofocas do filho Carlos Bolsonaro, apesar de sua luta na coordenação da campanha presidencial; ocupou a secretaria-geral da Presidência e tornou-se o primeiro ministro demitido, em fevereiro/2019. Bebiano faleceu em março/2020 e seus familiares não mereceram qualquer cumprimento de pesar por parte do chefe da Nação; assim também procedeu com outro apoiador, falecido, em meados de março/2021, o senador Major Olímpio, afastado do presidente, devido aos seus erros na condução do país.

Salvador, 30 de março de 2021.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.



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