quarta-feira, 27 de abril de 2022

BOLSONARO E O EXÉRCITO (II)

O presidente Jair Bolsonaro que não foi um militar cumpridor dos seus deveres, assumiu a presidência da República e logo tratou de aproximar-se dos militares, trazendo-os para seu governo e beneficiando-os em tudo aquilo que foi possível; aliás, assim também tem-se conduzido com os policiais e servidores da segurança pública, quando concedeu aumento de salários, cargos comissionados no Executivo e programa habitacional próprio. Em certo momento, as arremetidas de Bolsonaro têm criado dificuldades para os governadores dos estados. É a sina de Bolsonaro entrar e criar confusão, discórdia e ódio. 

O evento mais estrambólico aconteceu com a denominada "micareta esfumacente" de Bolsonaro, em Brasília, no Sete de Setembro; foi mais um capítulo dos artifícios do presidente na diligência para conquistar o apoio do povo para o golpe que ele carrega como projeto desde que assumiu a presidência. No Sete de Setembro houve dedicação singular com a maior publicidade para o espetáculo, que seria o dia do "basta", quando, na verdade, promoveu verdadeira subversão às instituições. O Presidente atravessou a Esplanada dos Ministérios com tanques, fazendo o Exército, Marinha e Aeronáutica desfilar, no Eixo Monumental de Brasília, sem motivação alguma, exibindo suas armas e tendo causado galhofas, pelo fumaceiro que os equipamentos soltavam! Certamente usou deste artifício como meio de intimidação e para demonstrar sua força junto as Forças Armadas. O presidente quis descortinar sua pretensão de golpe, como gritaram uns poucos seguidores, ostentando apoio dos militares. O certo é que o reprovado, inusitado e inoportuno desfile não lhe garantiu os frutos que imaginava colher, consistente na batalha empreendida a favor do voto impresso, finalmente decidido pelo Congresso com o arquivamento da denominada PEC do Voto Impresso. Num primeiro momento, o presidente insurge-se contra as eleições, através das urnas eletrônicas, ao ponto de declarar "ou fazemos eleições limpas no Brasil, ou não temos eleições", como se ele fosse o maestro apto a suspender o show.

O mais repugnante de toda esta chantagem é que Bolsonaro conta com homens que escolhe a dedo para os comandos da Marinha, Aeronáutica e Exército. Aliás, a manutenção de um general como vice é a garantia para o "seguro-impeachment, porque os parlamentares intimidam-se na votação para enxotar um general do palácio do Jaburu. A escolha do general Braga Netto para a Defesa, com a saída inesperada de Fernando Azevedo, causou aborrecimentos nas três Armas e provocou a saída dos ministros do Exército, Edson Leal Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa e da Aeronáutica, Antônio Carlos Bermudez. Azevedo não se submeteu às ingerências de Bolsonaro na tentativa de politizar os militares, daí terem deixado o governo, assegurando que não participarão de aventura golpista a mando de Jair Bolsonaro.

O ex-ministro da Defesa, Braga Neto, entretanto, aceitou submeter-se ao presidente e fez o dever de casa em vários momentos, ferindo a disciplina militar e agora é cotado para a vice-presidência. Ele não possui a autonomia que o ex-ministro Fernando Azevedo tinha, daí a troca efetivada por Bolsonaro. Só lhe serve quem é subserviente, a exemplo do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, aquele da sabujice, quando declarou que "um manda e o outro obedece". Através de Braga Neto, o novo ministro da Defesa, juntamente com os novos chefes das três armas fizeram ameaçam à ruptura institucional, quando em Nota contra pronunciamento do ministro Barroso, afirmaram que as Forças Armadas constituem "fatos essenciais de estabilidade do País", como se vivêssemos em quadro de instabilidade, salvante o desequilíbrio promovido pelo próprio presidente.

As Forças Armadas não tiveram força para evitar a convocação de oficiais da ativa, a exemplo de Pazuello, do almirante Bento, ministro de Minas e Energia, do general Ramos, convocado ainda na ativa, além do grande número de militares, dos quais metade na ativa, em posições eminentemente civis da administração federal. Resta acreditar na resistência de parte das Forças Armadas, dos políticos e do STF para dissuadir Bolsonaro do golpe que ele trama cada dia do Palácio.

Salvador, 27 de abril de 2022.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados    





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