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sábado, 24 de setembro de 2022

"O NEGÓCIO DO JAIR: A HISTÓRIA PROIBIDA DO CLÃ BOLSONARO"

O presidente Jair Bolsonaro, além de todas as inópias aqui e alhures apregoadas, de origem ou apanhados no exercício do mandato de deputado federal, possui um achaque incurável, consistente na angústia de não arredar pé do Palácio, onde nunca esperava abeirar-se. Logo que tornou-se presidente é aproveitar da situação, fundamentalmente, para proteger a segurança da família, evitando apurações ou condenações indesejadas pelo clã. Trabalhou durante esses quase quatro anos neste sentido, e com este objetivo aproximou e promoveu benefícios para militares e policiais, difundiu e facilitou a compra de armas pela população, defendeu carrascos de 1964, a exemplo do torturador, Carlos Brilhante Ustra, além de promover sucessivos encontros com o povo para acusar o STF e seus ministros, questionando decisões que não lhe eram aceitáveis. Mas agora, às vésperas da eleição, o presidente insiste em contrariar a lisura do sistema eleitoral, pela qual ele e seus filhos foram eleitos, sem nunca ter apresentado uma prova sequer de qualquer farsa, como era comum no voto impresso, que ele prega retorno.

O livro, "O Negócio de Jair", de autoria da jornalista catarinense, Juliana Dal Piva, lançado no dia 13 de setembro/2022, pela editora Zahar, descreve a transformação dos gabinetes do então deputado federal e de seus três filhos em escritórios do crime. As rachadinhas não apareceram agora, mas desde 2018 é prática corrente na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro; os parentes e contratados pelos Bolsonaros entregavam a eles 90% dos salários recebidos. Dal Piva diz que a segunda mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, envolvida recentemente na compra de um imóvel em Brasília, sem comprovar renda, era a gerente da máfia e contava com Fabrício Queiroz e o miliciano assassinado, em 2020, na Bahia, Adriano da Nóbrega, autor de vários homicídios sem solução pela polícia, no Rio de Janeiro. A jornalista assegura que Bolsonaro era o comandante das cenas de crimes praticadas em quatro gabinetes do clã. Nos 30 anos na Câmara dos Deputados, Bolsonaro foi um medíocre parlamentar, mas destacou-se pelo trabalho no crescimento vertiginoso do patrimônio da família, inclusive com a compra de mais de 50 imóveis, em dinheiro vivo, ação inusitada no padrão brasileiro.     

Atribui-se ao livro de Dal Piva a condição de documento histórico, responsável pela retratação de "um tempo paupérrimo da nossa política". A imprensa confere à obra repercussão demolidora semelhante a causada com a entrevista do jornalista Luís Costa Pinto, em 1992, com Pedro Collor, que acusou o irmão, então presidente, Fernando Collor de Mello. A catarinense descreve como jorraram milhões para a família Bolsonaro, através das "contratações de contraparentes, amigos policiais e parentes de amigos policiais". Na obra está exposta, com minudências, a aquisição de casas e apartamentos pelo clã e pagos "com dinheiro vivo, cheques administrativos, transferência bancária, com ou sem comprovação de renda e declaração na Receita". O livro é fruto de consulta a milhares de documentos, desde a década de 90, e o trabalho resulta de três anos de pesquisas e investigações. Dal Piva traz fatos novos, a exemplo da importância da presidência da República para desarticular as acusações contra Flávio, no Ministério Público do Rio de Janeiro e no Supremo Tribunal Federal, mas acredita que, quando encerrar o mandato presidencial, "o castelo de cartas do clã desmorona".  

"O Negócio de Jair" alcança sua campanha para renovação do mandato na presidência, coordenada pelo senador Flávio, que acabou de adquirir uma mansão de R$ 6 milhões, em área nobre de Brasília, sem comprovar rendimentos. A manutenção do pai e chefe na presidência da República é indispensável, porque continuará encobrindo ou pelo menos postergando o desenlace dos crimes cometidos pelo clã. Para a Assembleia Legislativa aparece mais um ex-operador do esquema das rachadinhas, Fabrício Queiroz, que busca, com apoio dos Bolsonaros, mandato legislativo no Rio de Janeiro.   

Enfim, quem está certo é o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando em processo de impeachment contra Bolsonaro, requereu exame de sanidade mental para saber se "Bolsonaro é tecnicamente louco". O jurista sugeriu ao Ministério Público, competente para requerer a interdição, através de exame de sanidade mental". E Reale não ficou sozinho, pois um partido político pediu a interdição de Jair Bolsonaro.

Salvador, 24 de setembro de 2022.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.


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