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quarta-feira, 11 de outubro de 2023

MEUS 80 ANOS (III)

Depois que me diplomei em Direito, no Rio de Janeiro, pedi demissão da Petrobras, onde trabalhava, e retornei para minha cidade-natal. Em Santana, montei um pequeno escritório e passei a advogar na região, mas tinha um objetivo: fazer concurso de juiz de direito. Em 1971, já advogava, mas a realização de concurso demorou e só veio acontecer em 1977. Preparei-me durante todo este tempo, e quando aproximavam os dias das provas costumava trancar-me num quarto e dedicar aos estudos, evitando até contato com clientes, pois sabia que não seria fácil. Era de conhecimento geral, naqueles tempos, que os contemplados, nesses certames, eram sempre candidatos do esquema, ou seja, filho de desembargador, parentes ou seus protegidos. Eu tinha consciência desta aberração, mas os fatos demonstravam a realidade. Por isso minha dedicação aos estudos. Submeti às provas escrita e oral e fui aprovado, mas constatei, na prova oral, a pendência da banca. Minha primeira comarca foi Oliveira dos Brejinhos, três anos depois promovido para Bom Jesus da Lapa até desembarcar, depois de mais três anos, em Barreiras. Aí foi registrada outra emoção na minha vida. 

No meu aniversário, esposa e amigos promoveram uma grande festa na casa onde residíamos, em Barreiras. Lembro-me bem dos advogados Tadeu, falecido recentemente, e que também se tornou juiz; Antomar, Antonio Cunha, César, estes dois tornaram-se juízes, Geraldo, que também faleceu, e muitos outros advogados, com a participação efetiva dos servidores da comarca. Para se ter ideia da grandiosidade da festa, levaram até uma banda que era comandada por um servidor, Reginaldo, muito querido pelos colegas, e, na época, trabalhava no Cartório de Registro de Imóveis. Também nesta festa eu não me emocionei ao ponto de ultrapassar a fronteira da tolerância e ir aos prantos. Na comarca já era titular da Vara Crime o juiz Rubem Dário, amigo e um dos responsáveis pela organização da festa. Essa recepção e comemoração de meu aniversário marcou-me bastante. Depois disso era só dedicação ao trabalho, pois adorei a promoção para Barreiras, que eu tanto desejava, porque na minha região. Mas demorou para eu ser contemplado com a promoção seguinte para a capital. Barreiras foi minha terceira comarca, e aí permaneci por cinco anos, preterido entre muitos colegas que chegaram antes de mim à capital. Evidente que tive prejuízo na promoção, porquanto demorou para eu ser elevado ao cargo de desembargador, mas eu 2006 consegui uma cadeira no Tribunal.   

Devo dizer que não fiz carreira com movimentação rápida como ocorreu com muitos colegas; afinal, quando me submeti ao concurso, eu era um desconhecido, porque não frequentei os bancos escolares da Universidade em Salvador, mas no Rio de Janeiro. É motivo de orgulho para mim, porque consegui estudar na faculdade mais procurada do Brasil, naqueles anos, seja pelos bons professores que dispunha, seja porque eu não tinha como pagar e a Nacional era gratuita. E obtive a vaga somente com meus estudos e minha preparação, pois nem tinha a quem pedir. Como disse, sai de Salvador, porque um professor da banca, no vestibular, não gostou de minha reação, respondendo às suas indagações de forma diferente da que ele ensinava. Tratava-se da prova de História. Acerca disso, historiei toda a confusão que terminou provocando minha ida para o Rio de Janeiro; não foi muito difícil, porque eu trabalhava no Banco Português do Brasil, em Salvador, e fui transferido para o mesmo banco, no Rio de Janeiro. 

Salvador, 11 de outubro de 2023.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.     




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