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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

MEUS 80 ANOS (IV)

A emoção maior que tive nesses tempos passados foi quando meu pai faleceu. Ele esteve em minha casa, aqui em Salvador, a tratamento médico e o filho-médico, que reside em Minas Gerais, acompanhou a viagem de Santana para Salvador. No dia da chegada de meu pai, com meu irmão, eu desembarcava de viagem longa, mas soube, por telefonema, de seu deslocamento, na manhã do mesmo dia. Alguns dias internado ou em minha residência, ele com sua esposa, minha madrasta, retornaram para Santana, após alta médica. Em Salvador, tivemos o apoio de um médico, grande amigo da família, dr. Anibal, que também acompanhou o tratamento. No retorno, permaneceu em Santana por alguns dias, mas não durou muito tempo e a família, encabeçada pelo irmão médico, Ademar, entendemos que o melhor seria mudar o local de novo tratamento para Goiânia. Lá, Diva, a esposa, tem muito conhecimento, mesmo porque ela é enfermeira e tem familiares, irmãos e filhos em Goiânia. Todavia, meu pai não resistiu por muito tempo. Um dia, pela manhã, meu irmão, Sérgio, liga-me e, com cuidado, fala-me sobre a morte de Manoel Cardoso Pereira, nosso pai. O corpo ia ser levado para Santana e o sepultamento seria no dia seguinte. Neste mesmo dia, rumei para Santana, com minha esposa, Maria Eurly, que me deu muita força. 

Cheguei pela manhã e nem passamos pela nossa casa em Santana; fomos direto para a residência do meu pai. Aí é que senti o drama e não suportei quando adentrei e vi meu pai morto. Caí em choro incontido e fui ríspido com uma prima, que procurava consolar-me. Eu respondi que Deus não foi justo, porque matou meu pai. Eu procurava conter-me da revolta que estava possuído, pois não admitia a morte de meu pai e, portanto, não queria aceitar a dura realidade da vida com a morte. Aliás, este trauma eu carrego, desde a morte da minha mãe, lá, no dia 30 de maio de 1950. Eu era criança e o pai desesperou aos gritos com a morte de sua primeira esposa e nossa mãe. Na verdade, os cinco filhos, eu o mais velho com 7 anos, fomos levados para a casa de uma tia. Com isso, meu pai comandou a criação dos filhos e contou com a ajuda de uma irmã e nossa tia, mas inadmitiu novo casamento nos primeiros anos. Meu pai só veio a casar depois de sete ou oito anos desde a morte de nossa mãe. O tempo passou, mas nunca compreendi a morte de minha santa mãe e, depois, a do meu pai. É tema recorrente na minha vida.

As emoções, e são muitas, aconteceram de fatos que trouxeram-me alegria e de outros que me entristeceram. De qualquer forma tocaram nos meus sentimentos. Quanta alegria levaria para meu pai e minha mãe se estivessem vivos para presenciar minha ascensão ao Tribunal de Justiça da Bahia e tornar-me corregedor! Depois, a gratidão de tantas pessoas pelas decisões que proferi no Tribunal. Outro dia, por exemplo, estive no Tribunal e sinto alegria incontida, quando sou reconhecido, por motoristas ou servidores, depois de tantos anos afastado! E também, de quando em vez, sou reconhecido e convidado para eventos, por pessoas que foram favorecidos com decisões que mudaram suas vidas, a exemplo, de uma conselheira do Tribunal de Contas do Estado. Devo ter cometido alguns equívocos, nas minhas decisões, como juiz, mas creio que são partes que fazem do trabalho do julgador; acredito que levei muitos benefícios para muitos que clamavam por Justiça. 

Salvador, 12 de outubro de 2023.

Antonio Pessoa Cardoso
    Pessoa Cardoso Advogados.    

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