Cheguei pela manhã e nem passamos pela nossa casa em Santana; fomos direto para a residência do meu pai. Aí é que senti o drama e não suportei quando adentrei e vi meu pai morto. Caí em choro incontido e fui ríspido com uma prima, que procurava consolar-me. Eu respondi que Deus não foi justo, porque matou meu pai. Eu procurava conter-me da revolta que estava possuído, pois não admitia a morte de meu pai e, portanto, não queria aceitar a dura realidade da vida com a morte. Aliás, este trauma eu carrego, desde a morte da minha mãe, lá, no dia 30 de maio de 1950. Eu era criança e o pai desesperou aos gritos com a morte de sua primeira esposa e nossa mãe. Na verdade, os cinco filhos, eu o mais velho com 7 anos, fomos levados para a casa de uma tia. Com isso, meu pai comandou a criação dos filhos e contou com a ajuda de uma irmã e nossa tia, mas inadmitiu novo casamento nos primeiros anos. Meu pai só veio a casar depois de sete ou oito anos desde a morte de nossa mãe. O tempo passou, mas nunca compreendi a morte de minha santa mãe e, depois, a do meu pai. É tema recorrente na minha vida.
As emoções, e são muitas, aconteceram de fatos que trouxeram-me alegria e de outros que me entristeceram. De qualquer forma tocaram nos meus sentimentos. Quanta alegria levaria para meu pai e minha mãe se estivessem vivos para presenciar minha ascensão ao Tribunal de Justiça da Bahia e tornar-me corregedor! Depois, a gratidão de tantas pessoas pelas decisões que proferi no Tribunal. Outro dia, por exemplo, estive no Tribunal e sinto alegria incontida, quando sou reconhecido, por motoristas ou servidores, depois de tantos anos afastado! E também, de quando em vez, sou reconhecido e convidado para eventos, por pessoas que foram favorecidos com decisões que mudaram suas vidas, a exemplo, de uma conselheira do Tribunal de Contas do Estado. Devo ter cometido alguns equívocos, nas minhas decisões, como juiz, mas creio que são partes que fazem do trabalho do julgador; acredito que levei muitos benefícios para muitos que clamavam por Justiça.
Salvador, 12 de outubro de 2023.
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