quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

SAIU NA FOLHA DE SÃO PAULO

 

Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima, formado em administração de empresas com mestrado em comunicação pela UFRJ. Foi editor de Opinião da Folha

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Marcos Augusto Gonçalves

Com Zuck e Musk na coleira, mentiroso Trump late para o mundo

Em pronunciamento patético, dono da Meta ajoelha e reza para o novo presidente americano e abole checagem factual

Numa patética declaração de sabujice e oportunismo, Mark Zuckerbergajoelhou e rezou para Donald Trump, o novo presidente CEO dos Estados Unidos, conhecido mentiroso serial.

O anúncio da reviravolta na política de moderação de conteúdos na Meta, dona do Facebook e do Instagram, não pareceu ter nada a ver com convicções e princípios. Foi uma rendição governista em defesa de seus bilhões, o que diz muito sobre a situação da comunicação de massas em nossos tempos de big techs e pós-verdades.

A declaração fez lembrar aqueles vídeos gravados à força por ativistas "arrependidos", com uma arma fora de cena apontada para sua testa. É bastante preocupante que o arrependido tenha citado um suposto consenso de ideias na América e aceitado docilmente a coleira de Trump para latir com o pitbull louro contra o mundo, especialmente o ocidental.

Em sua defesa da desinformação, com sórdida manipulação de estereótipos, o famoso Zuck considerou que o governo americano é o único defensor da liberdade de expressão, em contraste com a Europa reguladora e com a América Latina e seus "tribunais secretos" a ameaçar o "free-speech".

Um homem com cabelo cacheado e óculos escuros está em um palco, usando uma camiseta preta com texto. Ele parece estar se preparando para falar em um evento, com um fundo desfocado que sugere um ambiente de apresentação.
Mark Zuckerberg usa óculos de realidade aumentada da empresa durante evento na Califórnia - Manuel Orbegozo - 12.dez.24/Reuters

Os EUA, não é demais lembrar, aprovaram lei para banir o TikTok, mantêm uma prisão secreta em GuantánamoCuba, fora de qualquer regramento democrático, paparicam a ditadura assassina e repressora da Arábia Saudita e têm longa tradição de desestabilizar regimes escolhidos pelas urnas. Sim, é forte democracia, em muitos aspectos exemplar —mas contra ela Trump sempre investiu.

Zuckerberg não deu bola para Rússia e para a China, talvez para não chatear o "boss", amigo de Putin, e o novo correligionário, Elon Musk, que tem negócios no gigante asiático e não abre o bico para falar de restrições a direitos naquele país.

Pode-se rejeitar decisões do STF em seu ativismo crescente, simbolizado pelo importante mas pouco transparente e interminável inquérito conduzido por Alexandre de Moraes. Aqui mesmo seus excessos já foram criticados —e acrescentaria apreensão sobre como está se encaminhando o julgamento do Marco Civil da Internet.

Daí a cair na conversa mistificadora, populista e nociva de Zuckerberg vai longa distância. Trump, aliás, traz, como se sabe, esse risco da retomada da polarização. Mesmo críticos democráticos de Lula ou do STF podem ser capturados pela armadilha do alinhamento com o polo da direita trumpista e seu exército fascistoide que diz defender liberdade de expressão.

O apagão total de matizes se anuncia incontível, e assim voltaremos a chafurdar no atoleiro do qual na verdade ainda não saímos.

O tema da regulação das plataformas é complexo, não há espaço para discuti-lo aqui. Mas vale lembrar que tem seus elementos ocultos, mais ameaçadores do que os fantasiosos "tribunais secretos" temidos pelo magnata de camiseta da Meta: os algoritmos. Não é possível falar em plena liberdade de expressão e transparência sem luz sobre esses editores digitais. Recomendaria a leitura de "A Máquina do Caos", de Max Fisher.

Na imprensa profissional existem filtros, posicionamentos públicos e jornalistas responsáveis pelas publicações. A empresa é solidária em condenações da Justiça. Mas como responsabilizar algoritmos e a "comunidade" de Musk e Zuckerberg?



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