Lúcia Guimarães
É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.
Elon Musk usa fortuna para seu projeto de imperialismo racista
Bilionário consulta aliados sobre o financiamento de partido alternativo no Reino Unido para forçar a renúncia de premiê
Chama atenção o silêncio de Donald Trump sobre o homem que é hoje apelidado nos Estados Unidos de presidente Elon Musk. O líder republicano, que toma posse na segunda (20), é conhecido por não ceder protagonismo e está sendo provocado por adversários à espera de uma reação destemperada contra o sociopata bilionário que ganhou escritórios num edifício ao lado da Casa Branca para comandar uma pasta que não existe, o Doge, sigla em inglês para o orwelliano Departamento de Eficiência do Governo.
Sabe-se que Trump gosta de ver seus asseclas promovendo mútua destruição, como nesta semana, quando o suíno Steve Bannon afirmou que quer expulsar o homem mais rico do mundo da órbita trumpista. O desentendimento é sobre o fato de Musk defender os vistos de trabalho para estrangeiros que facilitaram o enriquecimento dosbarões do Vale do Silício e tornaram a mão de obra barata e educada em países como a Índia uma força de servos sob temor constante de deportação.
Embriagado pelo retorno do investimento de US$ 270 milhões feito para eleger o republicano –sua fortuna já aumentou em pelo menos US$ 70 bilhões– Musk está investigando como comprar outros governantes no exterior. Ele tem consultado aliados sobre o possível financiamento de um partido alternativo no Reino Unido com o objetivo de forçar a renúncia do primeiro-ministro trabalhista, Keir Starmer, eleito em julho passado, no mesmo mês em que o bilionário usou sua conta no X com mais de 200 milhões de seguidores para insuflar revoltas raciais no país.
A obsessão com Starmer não é explicada pela desculpa mentirosa, asuposta revolta com uma rede de exploração sexual de menores, que se estendeu entre o final dos anos 1990 e o começo da década passada. Afinal, foi o governo dos conservadores britânicos, no poder por 14 anos, que ignorou recomendações feitas por uma exaustiva investigação dos crimes. A indignação vem do fato de que múltiplos agressores tinham origem paquistanesa.
Elon Musk é um racista explícito criado no apartheid da África do Sul, o país cuja segregação definiu o caráter de dois outros bilionários influentes do Trumpistão –Peter Thiel e David Sacks. Como outros luminares da oligarquia digital americana, ele se interessa em apedrejar países europeus e intimidar Estados soberanos que têm maior apetite regulatório.
A fortuna e o alcance planetário de Musk são fatos e forçaram Keir Starmer a reagir recentemente, sem mencionar seu nome. O primeiro-ministro disse que "uma linha foi atravessada" quando Musk pediu sua prisão por cumplicidade no "estupro do Reino Unido". Starmer lembrou que, até há pouco tempo, a linguagem grotesca de Musk teria sido energicamente condenada por conservadores.
O problema não é só a direita britânica pós-Boris Johnson lambendo as botas de Trump e entorno. A imprensa precisa decidir se cada arroto mental postado de madrugada pelo sul-africano que abusa de cetaminaé manchete e se vai virar cúmplice de sacudir o cachorro pelo rabo no debate político.
Nesta quarta (15), o Ministério da Defesa e o Exército alemães fecharam suas contas na plataforma X, controlada por Musk, depois que ele começou a fazer campanha pela candidata da AfD (Alternativa para a Alemanha), a legenda anti-imigrante e neonazista, à eleição de fevereiro.
Como já lembrei aqui, ignorar o terrorismo digital de Elon Musk não é alternativa para o Brasil a caminho de 2026.
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