Nos dias de carnaval, avolumam-se os furtos, as depredações do patrimônio público e privado, além dos abusos praticados por homens e mulheres bêbados. Não há contradição mais desavergonhada do que a afirmação de um governador de que o carnaval é festa de família; essa assertiva não se sustenta nos fatos. O comentário mais presente sobre a festa momesca desautoriza o argumento, pois nas ruas de Salvador assim como nos outros Estados o que se vê é mais uma festa apelativa para denegrir a imagem da mulher.
A inexistência de violência e o elogio dos turistas não diminuem os inconvenientes dessa festa, principalmente, num bairro, densamente habitado, como é Barra, em Salvador; triste para o morador que reside nessas imediações, pois, nesse período, o governo faz de conta que não existe lei do silêncio, além de provocar muitos outros inconvenientes para os moradores. Imagine-se o idoso ou o doente que não tem recursos para deslocar para outro local e que se sente obrigado a permanecer em casa. Terá de suportar uma semana de martírio.
E o pior é que a cada ano parece aumentar os dias de reinado de Momo em Salvador. Aliás, a pecha de preguiçoso do baiano avantaja-se, em função também dessa festa, pois a partir de quinta feira, antes do carnaval, já estão praticamente fechadas as portas dos órgãos do governo e dos fóruns judiciais. Neste ano, o Tribunal decretou feriado para todo o dia da quarta feira de cinzas, inclusive no interior e o governo já tinha declarado feriado a sexta feira antes da festa. Por conta do desleixo, torna-se feriado também na quinta feira.
Mas o carnaval não é só brincadeira ou feriados, pois degradou para abusar do sexo a céu aberto, principalmente entre os gays. Um articulista do jornal Folha de São Paulo diz que em um bloco denominado de Blocu alguém brinca com seu ânus ou mostra o pinto e faz xixi em outra pessoa. No Rio de Janeiro, foliões do bloco Boi Tolo entoaram: “Ei Bolsonaro, vai tomar no ...”. A libertinagem, os excessos praticados por quem frequenta o carnaval, permitem até o comentário dos artistas, considerando normal a “dedada” ou o golden shower.
Até no carnaval, o Zero 2 colocou o pai, presidente, numa enrascada sem tamanho: publicou no Twitter um vídeo com dois homens seminus, no centro de São Paulo, dançando, em um bloco, quando um deles introduz o dedo no seu próprio ânus e aparece outro, urinando na cabeça, de seu colega. Não se sabe se o próprio presidente redigiu ou se foi o Zero 2.
Enfim, o carnaval desvirtuou de tal maneira que se tornou uma festa de libertinagem, nunca uma festa de família.
Salvador, 27 de março de 2019.
Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.