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segunda-feira, 8 de abril de 2024

RADAR JUDICIAL

NÃO HÁ PODER MODERADOR

Em decisão do STF foi negada atribuição de poder moderador às Forças Armadas, cenário que se buscava com interpretação ao art. 142 da Constituição Federal. Todos os 11 ministros negaram essa incumbência de poder interferir no Legislativo, no Executivo e no Judiciário. Essa busca para conferir autoridade inexistente às Forças Armadas é do que se valeu Jair Bolsonaro para anular a eleição de Lula em 2022, com a manutenção do ex-presidente na presidência. O ministro Luiz Fux, no seu voto, assegurou que o emprego das Forças Armadas presta-se para "garantia da lei e da ordem". Disse mais o ministro: "A chefia das Forças Armadas é poder limitado, excluindo-se qualquer interpretação que permita sua utilização para indevidas intromissões no independente funcionamento dos outros Poderes, relacionado-se a autoridade sobre as Forças Armadas às competências materiais atribuídas pela Constituição ao presidente da República".  

JUIZ CONDENA POR MÁ-FÉ

O juiz Daniel Serpa de Carvalho, da 1ª Vara do Sistema dos Juizados Especiais de Coité/BA,  condenou em danos morais o autor de uma demanda, porque alegou desconhecer contrato bancário celebrado com um banco. O requerente disse surpreso com a inscrição de seu nome na Serasa por contrato que ele não assinou; requereu nulidade da cobrança e exclusão de seu nome, além de pedir danos morais. A documentação mostrou cenário diferente do que afirmou o autor da demanda; o magistrado negou os danos morais, julgou improcedente a ação e condenou o requerente em danos morais.  

VOTO IMPRESSO: "GERME DO GOLPE"

O ministro Roberto Barroso, do STF, declarou que a proposta de emenda à Constituição para admitir o voto impresso, em agosto/2021, foi um risco, "porque sempre achei que ali estava o germe do golpe, a volta do modelo fraudulento de eleições para poder alegar que houve fraude. Achei que era uma batalha de quase vida ou morte pela democracia brasileira". O ministro diz que, apesar de seu empenho para não passar essa proposta, não implicou em ativismo legislativo, "porque eu fui ao Congresso convidado" e, portanto não se justifica a afirmação de Bolsonaro de "ter pressionado deputados conta a proposta". Em entrevista ao jornal O Globo disse: "Ou se nós não enfrentarmos a tentativa de golpe, o próximo que perder também vai achar que pode articular um golpe. O direito tem esse papel dissuasório de novos comportamento ilícitos".   

EXTRAVIO DE BAGAGEM: INDENIZAÇÃO MAIS DE R$ 30 MIL

Em voo da Cia Aérea Ibéria entre Roma e Paris, houve extravio da bagagem de um turista, que foi obrigado a despachar a bagagem de mão. O extravio provocou ação judicial, depois que não se conseguiu acordo com a empresa. Aconteee que entre os itens enumerados da bagagem havia artigos das marcas Louis Vuitton, Prada, Gucci, além de outras. O autor reclamou danos materiais e moral. A juíza do 6º Juizado Especial Cível do Rio de Janeiro julgou procedente o pedido, sob fundamento de que "os fatos narrados geraram intranquilidade, perda de tempo útil com tentativas de solução do imbróglio, além do fato de que o autor não recebeu sua mala e seus pertences até hoje". O caso terminou com a empresa cumprindo a sentença e reembolsando no valor de R$ 31.500,00.   

FLORDELIS PERDE RECURSO

A 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro rejeitou recurso de apelação da ex-deputada federal Flordelis e manteve a condenação de 50 anos de prisão. Trata-se da atribuição de culpa pela participação no assassinato do marido, pastor Anderson do Carmo, em junho/2019. Os crimes atribuídos a Flordelis são de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio duplamente qualificado, uso de documento falso e associação criminosa armada. Foi mantida também a condenação de Simone dos Santos Rodrigues, de Ariano dos Santos Rodrigues, filhos biológicos de Flordelis e de Carlos Ubiraci Francisco da Silva, filho afetivo. A Câmara anulou absolvição de três pessoas acusadas de envolvimento no crime, decisão do Tribunal do Júri de Niterói. 

STF ANALISA RESPOSTA A MUSK

O STF analisa responder à ameaça do bilionário Elon Musk, quando insuflou para as redes sociais desrespeitar restrições judiciais. Musk prometeu reativar contas suspensas na rede, incluindo aquelas vinculadas a políticos e empresários, ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Uma das penalidades que poderá ser tomada situa-se na remoção da plataforma X do ar. Não se acredita que o STF vai lançar qualquer nota sobre o caso.

Salvador, 8 de abril de 2024.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.
   


BOLSONARO: "NOSSA LIBERDADE ESTÁ NAS MÃOS DELE" (MUSK)

Será aberto hoje, 8, inquérito contra o bilionário Elon Musk, visando apuração de sua conduta "em relação aos crimes de obstrução à Justiça, inclusive em organização criminosa", segundo determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que mandou incluir no inquérito das milícias digitais por "dolosa instrumentalização criminosa da provedora de rede social "X". Na decisão, o ministro fixou multa de R$ 100 mil por eventual desobediência a qualquer ordem judicial pelos responsáveis legais pela provedora de rede social "X" no Brasil. Essas providências originaram-se das últimas provocações de Musk, ameaçando desobedecer às determinações da Justiça brasileira, inclusive com retirada de restrições impostas a perfis da rede social. O atrevido empresário, residente em outro país, chegou ao ponto de defender impeachment do ministro.
 

Os oportunistas, a exemplo dos bolsonaristas dispararam elogios ao estrangeiro que, sem motivação alguma, interfere no sistema político judiciário do Brasil. O próprio Bolsonaro declarou que "a nossa liberdade, em grande parte, está nas mãos dele". Esse "dele", acreditem, é Musk. O ex-presidente disse que o empresário trabalha pela liberdade, mas não explicou se a liberdade é para ganhar dinheiro. Qual a moral que Bolsonaro tem para afirmar que "a nossa democracia está ameaçada, todo mundo sabe disso, a nossa liberdade de expressão nem se fala". O advogado-geral da União, Jorge Messias, reclamou de que mora no exterior e que possui "controle de redes sociais e se coloquem em condições de violar o Estado de Direito, descumprindo ordens judiciais e ameaçando nossas autoridades".   


 

CABO GANHA DANO MORAL POR AGRESSÃO DE TENENTE

Um ex-cabo do Exército foi chamado de "vagabundo" por um segundo-tenente que lhe aplicou castigos físicos. A agressão aconteceu na frente de 30 militares, quando estava no quartel do 2º Grupo de Artilharia Antiaérea, em Praia Grande/SP. O ofendido ingressou no Juizado Especial Federal de São Vicente/SP. A magistrada, sustentada no art. 37, parágrafo 6º da Constituição Federal, condenou a União a pagar indenização de R$ 6 mil, sob fundamento de que a atividade pública torna a responsabilidade do ente público. A lei maior adota a teoria do risco administrativo, prevendo a responsabilidade objetiva, por condutas comissivas. É assegurado o direito de regresso contra a pessoa que causou o dano. A juíza invocou até informação prestada pelo próprio Exército, que confirmou as alegações do autor, de conformidade com resultado de Sindicância instaurada pelo comando do 2º GAAA, concluindo que o segundo tenente chamou o cabo de "vagabundo", além de ter mandado ele ir para "vala" e que "tomasse um radiador", ou seja molhar as costas com água gelada. Isso ocorreu porque o cabo estava com o joelho lesionado e não tinha condições de correr com a velocidade pretendida pelo tenente.   

O cabo, através de seu advogado, ingressou também com ação anulatória no Tribunal Federal Regional da 3ª Região, visando anular a sindicância que lhe puniu. O advogado, nesse caso, tornou-se vítima de prepostos do Exército e ingressou na OAB com reclamação, tendo o conselheiro de Prerrogativas da entidade dito que foram comprovados "atos de arbitrariedade e de violação às garantias profissionais do advogado". A sessão de desagravo acontecerá na próxima quarta-feira, 10, na sede da entidade.  

 

PRESIDENTE DO TRIBUNAL ASSUME PREFEITURA

Presidente do Tribunal e Prefeito
O prefeito de Recife, João Campos, viaja aos Estados Unidos e a prefeitura será governada pelo presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, que assumiu o cargo na sexta-feira, 5, e permanecerá até terça-feira, 9, quando Campos retorna da viagem em Boston/EUA, onde participa d conferência. É o primeiro caso no qual a ausência do titular da capital importa em ser convocado o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Ricardo Paes Barreto. Assim, em Pernambuco, o presidente do Tribunal assume a vacância tanto na prefeitura quanto na ausência da governadora. A legislação não previa a substituição no Executivo municipal, em caso de impedimento do vice e do presidente da Câmara Municipal, como ocorreu em Recife, daí a alteração na Lei Orgânica do município. O magistrado comemorou dizendo que é a "primeira vez que um presidente de tribunal assume uma capital tão importante como é o Recife".  

Acontece que a vice-prefeita Isabella de Roldão e o presidente da Câmara Municipal, vereador Romerinho Jatobá não assumirão, porque são candidatos nas eleições municipais de outubro. Levantamento promovido pela Procuradoria-Geral do Município constatou que "na maioria das capitais, quem assume é o procurador-geral do município. Em outras, a Secretaria de Planejamento e, em outras, a Secretaria da Casa Civil do Governo". Isso no caso de impossibilidade do vice-prefeito e do presidente da Câmara Municipal. 



INTIMAÇÃO SEM CARTA DE ORDEM

Através da Portaria n. 54/2024, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais inovou com celeridade nos processos judiciais. Trata-se do denominado cooperação judiciária, na qual os magistrados de segunda instância solicitam a prática de atos processuais em primeira instância, sem expedição de carta de ordem, como é comum. O desembargador Alberto Vilas Boas, vice-presidente e autor da Portaria, explica que o ato desburocratiza a justiça, e está em alinhamento com os artigos 67 e seguintes do Código de Processo Civil e com a Resolução 350/2020 do CNJ. A intimação na unidade de primeira instância acontecerá por meio de comunicação eletrônica. 

A Portaria 54/2024 possibilita "a determinação ou solicitação de realização de ato processual em primeira instância deverá ser transmitida por meio de comunicação eletrônica, via sistemas informatizados do Tribunal, e dirigida ao juízo em que tramita ou tramitou o processo a que corresponde o feito em tramitação em segundo grau". A Portaria faz uma ressalva, no caso de o "juízo de primeira instância que se afigure apto a executar a ordem não haja um processo equivalente ao que se encontra em segunda instância, a execução da determinação ou pedido especificado pode ser realizada, excepcionalmente, por meio do envio de uma carta de ordem".  




MANCHETES DE ALGUNS JORNAIS DE HOJE, 8/4/2024

CORREIO BRAZILIENSE - BRASÍLIA/DF

Moraes determina que se investigue X (ex-Twitter) e Musk

Em resposta a ataques do bilionário, ministro reage àquilo que considerou "instrumentalização dolosa" da rede social. Enquanto bolsonaristas exaltam ameaças do empresário de reativar contas suspensas judicialmente, governo defende regulação das redes

O GLOBO - RIO DE JANEIRO/RJ

Decisão de Musk de não cumprir ordens do STF é afrontar soberania nacional

Analistas: se empresário discorda da Justiça brasileira, deveria recorrer a órgãos competentes

Lula marca reunião para discutir 

situação na Petrobras

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou retorno à capital 

federal neste domingo

CORREIO DO POVO-PORTO ALEGRE/RS

Naufrágio em Moçambique deixa mais de 

90 mortos, incluindo muitas crianças 

Navio transportava cerca de 130 pessoas e teve problemas ao tentar chegar à ilha de Moçambique


EXPRESSO 50 - LISBOA/PT

PS prepara discurso "duro" no programa de 

Governo, a fugir da "armadilha" do Governo 

e de desalinhamentos internos

domingo, 7 de abril de 2024

RADAR JUDICIAL

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A Inteligência Artificial e a biotecnologia penetram em todos os campos, promovendo grandes descobertas, mas a preocupação reside na diminuição de empregos e até fechamento dos postos existentes.  O futuro não é nada promissor para as oportunidades de empregos, apesar da criação de outras profissões que, certamente aparecerão, face ao crescimento da Inteligência Artificial, que mudará vários segmentos da sociedade. 

ISRAEL É PRESSIONADA E AFASTA DA FAIXA DE GAZA

Depois de matar mais de 33 mil palestinos, em seis meses de guerra, o Exército israelenses foi bastante pressionado pela comunidade internacional, inclusive Estados Unidos, para afastar de Gaza e para não invadir Rafah, em Gaza, como estava programado. Realmente, reduziu sua presença no território palestino, todavia, os carniceiros dizem que "A divisão deixou a Faixa de Gaza para se recuperar e se preparar para operações futuras". Nessa região vivem mais de um milhão de palestinos e o Exército israelense estava pronto para invadir essa área e, realmente, seria verdadeira carnificina. O Exército diz que "a medida seria fruto do esgotamento das operações de inteligência na região, não um exigência do presidente americano, Joe Biden, ao primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu".   

ROBINHO E OUTRO FORAM CONDENADOS DOS DENUNCIADOS

O jogador Robinho, Robson de Souza, tornou-se o único dos seis acusados de estuprar uma albanesa na Itália, em 2013, a ser punido. Robinho foi condenado a nove anos e está na Penitenciária 2 de Tremembé/SP. Acontece que a vítima culpou Robinho e mais cinco: Ricardo Falco, Rudney Gomes, Clayton Santos, Alexsandro da Silva e Fabio Galan. Eles "abusaram analogamente (igualmente) da pessoa lesada, obrigada a relações orais e vaginais para com eles". A Justiça italiana condenou também Ricardo Falco a nove anos de prisão pelo mesmo crime, mas Falco ainda não foi preso no Brasil. Os outros quatro não foram condenados pela Justiça da Itália, mesmo porque não foram encontrados e o processo está paralisado na Itália. 

STF DÁ PENSÃO PARA EX-GOVERNADORES

A 2ª Turma do STF modulou decisão que julgou inconstitucional pensão vitalícia para ex-governadores do Paraná e para suas viúvas. Modular, em outras palavras, é dizer sim e não. O entendimento foi de que "não é razoável, à luz das garantias constitucionais, cassar benefícios recebidos de boa-fé durante décadas por pessoas idosas que não possuem mais condições de se reinserir no mercado de trabalho". A decisão importou em manter o benefício para todos aqueles que tiveram as pensões antes da declaração de inconstitucionalidade, em 2019, ou seja, todos. O voto, que a Turma seguiu, foi do ministro Gilmar Mendes, que anulou ato administrativo do governador do Paraná, responsável pela suspensão do pagamento das pensões aos autores. O ministro justificou que não se trata de revisão do precedente na ADI 4.545, mas observou as peculiaridades fáticas, ou seja, governadores dos estados.  

APOSENTADORIA COMPULSÓRIA  

O ministro Flávio Dino, do STF, nos dias que esteve no Senado, apresentou proposta de emenda à Constituição, visando acabar com a aposentadoria compulsória para juízes, promotores e militares. O ministro Dino afirmou que a PEC 3/204 acaba com a punição por conduta grave que "acarreta alto grau de desmoralização do serviço público e perda da confiança nas instituições públicas" e ainda permite recebimento de vencimentos. Assegurou que não há motivo para magistrados, promotores e militares receberem tratamento diferente dos demais servidores públicos que cometem faltas graves. Disse que "se você comete uma falta leve, você tem uma punição proporcional. Mas, se você pratica um delito grave que configure, eventualmente, até um crime, é claro que você tem de receber uma sanção simétrica. No caso, a perda do cargo".  

Salvador, 7 de abril de 2024.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.



EM PINDORAMA, A CORRUPÇÃO GANHA

Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Em Pindorama, a corrupção ganha

No funeral da Lava Jato os zumbis festejam


Em janeiro passado, a Transparência Internacional divulgou que o Brasil havia perdido dez posições no Índice de Percepção da Corrupção, caindo para o 104º lugar, atrás do Uruguai, Chile, Cuba e Argentina numa lista de 180 países. Na origem da desclassificação, entre outros fatores, estava o desmanche da Operação Lava Jato.

Dias depois, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a Procuradoria-Geral da República investigasse as atividades da Transparência nas negociações de acordos de leniência firmados com o Ministério Público. (Existia um ofício da PGR, de 2020, tratando do assunto, sem ter encontrado anormalidades.) Se um ministro do STF quer que se investigue, é melhor que haja investigação e que, no menor tempo possível, seu resultado seja conhecido.

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Policiais federais durante buscas na 7ª fase da Operação Lava Jato, em 2014 - Luiz Carlos Murauskas - 14.nov.2014/Folhapress

Numa malvadeza dos deuses, passados dois meses dessa saia justa, a multinacional Trafigura aceitou pagar US$ 127 milhões ao governo americano por conta dos propinodutos mantidos entre 2003 e 2014 em inúmeros países, inclusive no Brasil.

A ponta brasileira das propinas é uma aula. Ela foi puxada em 2014, no amanhecer da Lava Jato, quando as investigações pegaram Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras e destinatário de uma rede de capilés.

Dois anos depois, Mariano Marcondes Ferraz, operador da Trafigura, foi preso quando embarcava para Londres. O amigo da Petrobras havia confessado que o doutor lhe deu US$ 868 mil entre 2011 e 2014. Marcondes Ferraz pagou uma fiança de R$ 3 milhões e foi para casa. Na audiência de custódia, ele reconheceu o pagamento das propinas. Em 2016, Marcondes Ferraz desligou-se da Trafigura.

A ponta brasileira das investigações seguiu seu curso. Noutra ponta, a americana, tanto a Trafigura como duas outras grandes multinacionais do mercado de petróleo começaram a ser investigadas pelo Departamento de Justiça americano.

Ao longo de dez anos as coisas andaram para a frente nos Estados Unidos e para trás no Brasil. As ligações voluntaristas da República de Curitiba com os procuradores americanos foram demonizadas. Confissões foram desqualificadas, multas foram congeladas e, como se vê, o ex-juiz Sergio Moro corre o risco de perder o mandato de senador. (O procurador Deltan Dallagnol já perdeu sua cadeira de deputado.)

Isso no Brasil, porque nos Estados Unidos outras duas gigantes do comércio internacional de petróleo, a Vitol e a Glencore, renderam-se. Uma pagou US$ 164 milhões em 2020 e a outra entregou perto de US$ 1 bilhão em 2022. A Trafigura foi a última a capitular. Nos Estados Unidos a Viúva faturou cerca de US$ 1,3 bilhão.

No Brasil, o processo foi congelado pelo Superior Tribunal de Justiça e, depois que o ministro Dias Toffoli anulou provas relacionadas com as traficâncias da falecida Odebrecht, a defesa dos maganos da Trafigura pediu à Justiça que seja "declarada a imprestabilidade de todo o acervo probatório".

A Justiça sabe o que faz com sua reputação. A política ajudou a desmanchar a Lava Jato, mas o processo congelado da Trafigura contém uma gracinha: um confessou que recebeu, o outro reconheceu que pagou e a própria empresa aceitou uma multa de US$ 127 milhões por manter propinodutos pelo mundo afora, inclusive no Brasil.

A terra das palmeiras, onde canta o sabiá, caiu no ranking da percepção de roubalheiras e a Transparência Internacional deve ser investigada.

A MATÉIA SAIU NA FOLHA DE SÃO PAULO 

 

TRUMP QUER SER MANDELA

Trump e Stormy Daniels
O ex-presidente Donald Trump quer comparar sua figura corrupta ao ativista sul-africano Nelson Mandela. Diz que se for preso tornará "um Nelson Mandela moderno". Mandela foi um lutador contra o apartheid, enquanto Trump é um gladiador de suas empresas. O ex-presidente americano vai responder a quatro processos criminais, sendo um deles porque comprou o silencio da ex-atriz pornô, Stormy Daniels, para não divulgar sua relação extraconjugal. O julgamento de Trump terá início no dia 15 de abril e o juiz Merchán proibiu seus ataques aos magistrados nas redes sociais. Ele manifestou na sua rede Truth Social e acusou Merchán de infringir direitos à liberdade de expressão. Escreveu Trump: "Se esse lacaio partidário quiser me colocar na prisão por dizer a verdade aberta e óbvia, com prazer me tornarei um Nelson Mandela moderno. Será minha grande honra". Trump já se comparou também a Jesus Cristo. 

Mandela, que morreu em 2013, passou 27 anos na prisão e logo que foi liberado venceu a eleição presidencial da África do Sul. Certamente, Trump não terá esse destino, salvo a primeira parte de ser enjaulado. Os adversários de Trump disseram: "Imagine ser tão egocêntrico a ponto de se comparar a Jesus Cristo e Nelson Mandela, tudo em pouco mais de uma semana: com vocês, esse é Donald Trump".   

MUSK TRATA BRASIL COMO SUA "X"

O empresário Elon Musk resolveu intervir, no Brasil, com sua conta "X", antiga Twitter. Ele afirmou, nas redes sociais, ontem, 6, que irá desobedecer à Justiça do Brasil e retirar todas as restrições às contas que forem bloqueadas por decisão do STF. Ele declarou que se dispõe até mesmo a fechar a plataforma no Brasil. Declarou o excêntrico milionário: "Estamos levantando todas as restrições. Este juiz (Alexandre de Moraes) aplicou multas pesadas, ameaçou prender nossos funcionários e cortou o acesso ao ??? no Brasil. Como resultado, provavelmente perderemos todas as receitas no Brasil e teremos que fechar nosso escritório lá. Mas os princípios importam mais do que o lucro". Ninguém engole essa afirmação de Musk, pois sua vida é o inverso, ou seja, valorizar o lucro acima de tudo.
   

Musk escreveu: "Por que você está determinando tanta censura no Brasil", como se os juízes, do Brasil tivessem que prestar contas de suas decisões ao estrambótico empresário. Aqui, não se defende decisões, por vezes, ilegais e arbitrárias de ministros, mas se afasta qualquer tentativa de interferência do estrangeiro no país. E o pior dessa lenga-lenga é que políticos brasileiros embarcam nessa estupidez do milionário para parabenizá-lo e elogiá-lo e classificá-lo como "pessoa democrática". Há também políticos que denominaram de "patética" a postagem de Musk. O advogado-geral da União, Jorge Messias, foi sensato quando declarou: "É urgente regulamentar as redes sociais. Não podemos conviver em uma sociedade em que bilionários com residência no exterior tenham controle de redes sociais e se coloquem em condições de violar o Estado de Direito, descumprindo ordens judiciais e ameaçando nossas autoridades. A Paz Social é inegociável".