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domingo, 13 de abril de 2025

SERVIDOR COMPARA CABELO DE ADVOGADA COM VASSOURA

O servidor público Geraldo Baptista Benete, de Sorocaba/SP, foi condenado, em agosto/2024, à pena de dois anos e oito meses de reclusão, porque comparou o cabelo de uma advogada a uma vassoura piaçava, mas no recurso ele foi absolvido. A sentença prolatada pela juíza Daniella Camberlingo Querubim assegurou que o crime "não foi praticado em circunstâncias piores daquelas normalmente verificadas em delitos da mesma espécie, daí ter embasado em injúria racial e agravante do cometimento do crime ser originado de funcionário público, na forma da Lei 7.7126". O caso subiu para o Tribunal de Justiça de São Paulo que modificou a sentença para absolver o servidor público, por maioria, com invocação do disposto no inc. III, art. 386 do Código e Processo Penal.    

O caso aconteceu em abril/2023, em reunião online da Justiça do Trabalho de Sorocaba. O servidor, 73 anos, trabalha na Prefeitura de Sorocaba, mas estava "emprestado" e foi afastado da função por suspeita de injúria racial. A advogada Julietta Elisabette de Jesus Oliveira Teofilo, 26 anos, explicou que estava em sessão de rotina de trabalho, para acompanhar andamento de processos na Justiça, na sala virtual, na presença de mais dois servidores. Diz a vítima: "Eu entrei na reunião e estavam estes dois servidores, uma mulher e um homem. Eu já conhecia os dois, mas neste dia quem me atendia era a servidora. Quando eu liguei minha câmera, a pedido dela, ela elogiou meu cabelo, disse que era bonito. Eu sou uma mulher negra e uso um penteado estilo "black power". Prossegue: "Depois do elogio, eu escutei o homem que estava na sala com ela comentar ao fundo, rindo. Bonito? parece uma vassoura piaçava. No mesmo momento, eu disse que havia escutado o comentário dele e que aquilo era crime". 

 

CRIANÇAS NOS TRIBUNAIS SEM ADVOGADOS

O Direito não existe no governo de Donald Trump para crianças; elas são levadas aos tribunais de imigração, nos Estados Unidos, sem advogados. E mais: o governo estúpido de Trump cancelou todos os contratos com organizações que ofereciam representação legal a menores imigrantes não assistidos, causando a presença de crianças às audiências no Judiciário desacompanhadas de assistência jurídica. Uma menina de 5 anos, acompanhada de uma irmã, 13 anos, e um irmão, 15 anos, saíram do México e chegaram aos Estados Unidos, em março/2024, desacompanhadas dos pais ou responsáveis, e assim enfrentam processos de deportação no Tribunal de Migração, em San Diego, na Califórnia/EUA. Eles foram detidos porque cruzaram a frontes irregularmente. A mãe da menina, que emigrou em outra oportunidade, está apenas presente na audiência; ela declarou: "não podemos permitir isso". A juíza Olga Attia pede explicações à criança sobre seu caso, e sugere assistência jurídica para a criança, mas nada consegue e marca nova audiência para o mês de maio. São milhares de crianças na mesma situação dessa menor. A origem de tudo isso reside no ato insano de Trump que cancelou abruptamente todos os contratos com organizações que oferecem representação legal para menores não acompanhados. Todavia, uma juíza revogou essa estúpida decisão, mas prevalece somente até 16 de abril. 

As crianças nessa situação são da América Central e muitas da América Latina e de outros continentes e o pior é que não entendem inglês. O advogado Jonathan D. Ryan declarou à BBC News: "É como retirar deles o paraquedas antes de lançá-los do avião". Os advogados que se aventuram a, gratuitamente, defender essas crianças sabem que correm perigo, porque o governo Trump poderá persegui-los. A obrigação de o estado oferecer defesa gratuita, nos Estados Unidos, só é válida para processos penais, e não alcança os casos migratórios, de competência da justiça civil. A Lei de Proteção a Crianças Estrangeiras não Acompanhada, de 2005, impede a expulsão de menores de idade para suas nações de origem, além de exigir assessoria e representação legal"; outra Lei de Reautorização da Prevenção e Proteção das Vítimas do Tráfico de Pessoas, de 2008, determina acesso à representação legal no país. A representação legal dos menores era exercida pelo Centro Acacia para a Justiça, mas, em fevereiro, o governo Trump suspendeu o contrato, constando o motivo: "por conveniência do governo". Em abril, a juíza Araceli Martínez-Olguín, de São Francisco  determinou que Trump restabelecesse a assistência de forma temporária. Relatos da agência de noticiais Reuters afirmam que Trump "pretende rastrear as crianças imigrantes não acompanhadas", buscando deportá-las. O governo Biden ampliou acesso aos serviços jurídicos para menores não acompanhados. Os relatos sobre a vida dessas crianças no governo atual é simplesmente inacreditável, tamanha a perseguição e desumanidade.  

TRUMP REDUZ VERBAS PARA UNIVERSIDADES

A redução de verbas para universidades e órgãos de pesquisa constitui política adotada por Donald Trump desde que assumiu a Casa Branca. Os cortes atingem centenas de pessoas em estágio probatório e muitos cientistas estão à busca de colocação na Europa. O governo de Donald Trump alega que são necessários cortes de bilhões de dólares, visando a redução do déficit federal e o controle da dívida americana. Na verdade, as universidades estão sendo discriminadas pelo presidente americano, na polícia que adotou de diversidade. As universidades de Yale, Columbia e Johns Hopkins, além de outras, inserem-se na política de perseguição. Em março, 13 países europeus assinaram em uma carta pedindo à Comissão da União Europeia para atrair talentos acadêmicos que estão deixando os Estados Unidos. O Conselho Europeu de Pesquisa, órgão da União Europeia, que financia trabalhos científicos, declarou que vai dobrar o orçamento de realocação para financiar pesquisadores que mudarem para países da Europa, no valor de 2 milhões de euros por candidato; o valor presta-se para cobrir custos da mudança. Trump não devota nenhuma predileção pelo mundo das pesquisas, daí a redução das verbas para esse setor. 

Conservadores e os social-democratas da Alemanha fazem planos para atrair até mil pesquisadores. Com isso, muitas universidades estão sendo obrigadas a demitir, suspender contratações e param de preencher vagas, interrompendo estudos. Cientistas seniores dos Institutos Nacionais de Saúde temem pela suspensão de pesquisas sobre obesidade, doenças cardíacas e câncer. A Reuters, depois de conversas com 13 universidades e institutos de pesquisa europeus, constatou que grande número de funcionários estão deixando os Estados Unidos e rumando para a Europa. Gray McDowell, da Capgemini Invent, empresa de consultoria digital dos Estados Unidos, declarou: "A incerteza regulatória, os cortes de financiamento, as restrições à imigração e a diminuição da colaboração internacional criam uma tempestade perfeita para a fuga de cérebros". 

 

BRASIL PODE RECEBER CARROS DO MÉXICO

O setor automotivo, nos Estados Unidos, está suspendendo a importação de veículos, face às taxa de 25% imposta por Donald Trump; neste sentido posicionaram-se a Audi e Jaguar Land Rover, além de outras montadoras. O Grupo Stallantis paralisou a produção em fábricas no Canadá e no México, causando a suspensão de centenas de funcionários. Muitas marcas preferem operar no México, porque a mão de obra é mais barata, o governo mexicano oferece grande apoio, os impostos são mais baixos, a localização geográfica é excelente e facilita o envio dos carros para os Estados Unidos. A avaliação dos entendidos é de que o crescimento será bem menor em 2025, do percentual que se previa de 4%, porque haverá redução em torno de 1 milhão de veículos, face a alta dos preços dos carros, que pode chegar a US$ 12 mil. A expectativa de Donald Trump é de que sua decisão vai fortalecer a indústria nacional. A Standard & Poor´s assegurou que no ano de 2024, o percentual de 46% dos 16 milhões de carros vendidos nos Estados Unidos foram importados.  

O México é o grande exportador de carros para os Estados Unidos, no percentual de 76% e com a paralisação das exportações é quase certo que esses 3 milhões de veículos serão levados para o mercado latino-americano, principalmente para o Brasil, facilitado pelo acordo entre os dois países do livre comércio. Esse cenário, consistente na concorrência da indústria nacional com o México, vai perturbar os fabricantes do Brasil. 


MANCHETES DE ALGUNS JORNAIS DE HOJE, 13/4/2025

CORREIO BRAZILIENSE - BRASÍLIA/DF

Bolsonaro chega a Brasília e pode passar por cirurgia no domingo (13/4)

O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou ao DFStar e entrou andando na unidade hospitalar por volta das 22h. Ele foi recebido por uma equipe médica e fez vários exames que vão apontar se há ou não necessidade de nova cirurgia

O GLOBO - RIO DE JANEIRO/RJ

Litígio entre EUA e China mudará comércio, finanças e política mundiais

FOLHA DE SÃO PAULO - SÃO PAULO/SP

Déficit na Previdência desafia estados e municípios, e PEC federal volta à mesa para endurecer regras

Congresso desvinculou os governos regionais da União, e resultado foram 

regras mais brandas ou ausência de reforma

A TARDE - SALVADOR/BA

Valor do salário mínimo no Brasil pode ter aumento e chegar a R$ 1.627

Orçamento deve constar da apresentação do projeto de diretrizes orçamentarias do ano que vem

CORREIO DO POVO - PORTO ALEGRE/BA

Moro reage a Gilmar e diz que decano do STF 
tem de explicar relações com CBF

Decano do STF criticou Moro em comparação à Moraes

DIÁRIO DE NOTÍCIAIS - LISBOA/PT 

Ministério Público arquiva processo das contas bancárias de Montenegro. "Não se registou qualquer falha" 

O PSD revelou em comunicado que o presidente do Tribunal Constitucional notificou primeiro-ministro sobre o "arquivamento dos autos" depois de este ter dado os esclarecimentos solicitados.

sábado, 12 de abril de 2025

RADAR JUDICIAL

Em Jerusalém
ADVOGADO: 15 ANOS DE PRISÃO

O advogado José Geraldo Lucas Júnior, 32 anos, foi condenado à pena de 15 anos e dois meses de prisão, em júri terminado ontem, 11, à tarde, em Salvador. Ele foi acusado de matar o barbeiro Lucas Souza de Araújo, em janeiro/2021, em briga em um bar no Imbuí, em Salvador. José Geraldo, após tentativa de agressão, sacou sua arma e atirou em Lucas, que não estava armado, morrendo no local. Os advogados de acusação celebraram pela missão cumprida, com a condenação do criminoso. 

MENDONÇA ABSOLVE BADERNEIROS 

O ministro André Mendonça, do STF, votou, na quinta-feira, 10, pela absolvição de todos os baderneiros, envolvidos nos atos antidemocráticos com invasão dos prédios dos Poderes da República. Foram 17 réus que, se fosse julgamento somente do ministro indicado por Bolsonaro e que parece querer compensar a escolha de ser ministro, com votação a favor das pretensões do ex-presidente. O fundamento encontrado pelo ministro de Bolsonaro foi de que o "nível de evidência probatória exigida para a condenação difere daquele, menos, para o simples recebimento da denúncia. E, nos casos dos autos ora em julgamento, não foi atingido". O julgamento virtual encera-se hoje e a pena proposta pelo ministro Alexandre de Moraes, foi de um ano de reclusão, prestação de serviços comunitários, realização de curso sobre estado e democracia e proibição de uso de redes sociais, além de multa e suspensão do passaporte.  

EX-COMANDANTE DOS BOMBEIROS APOSENTA COM R$ 71 MIL

O ex-comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Adson Marchesini, depois de exonerado, proferiu discurso, voltado para queixas ao governador que lhe dispensou do cargo. Na sexta-feira, o militar foi para a reserva e vai continuar recebendo remuneração de R$ 71 mil.   

CURSOS DE MEDICINA

O Ministério da Educação, em 2023, avaliou 309 cursos de medicina e apenas seis conquistaram a nota máxima de 5, no Conceito Preliminar de Curso, um dos principais indicadores de qualidade do ensino superior no país. O Instituo Nacional de Estado e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira foram os órgãos responsáveis pela avaliação. O desempenho de excelência é atribuído, na maioria, a instituições privadas sem fins lucrativos, destacando faculdades tradicionais de São Paulo. As mensalidades dessas faculdades giram em torno de R$ 11,2 mil. Aparece na lista apenas uma universidade pública estadual; trata-se da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.  

NOTEBOOK PARA CONSERTO: CONDENAÇÃO

Foi mantida condenação de um homem que recebeu um notebook para conserto e substituiu peças originais por outras, sem autorização. A sentença condenou o homem na pena de um ano de reclusão, convertida em restrição de direitos e multa. A 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal manteve a sentença. O dono do notebook buscou assistência técnica para reparar dobradiças, mas verificou que o computador foi devolvido com configuração interna alterada e desempenho inferior. O acusado devolveu o valor cobrado, mas somente depois de questionado sobre as alterações na máquina. Os julgadores entenderam que "a devolução do valor pago pelos serviço, após contestação da vítima, não afasta a tipicidade do crime de estelionato, pois a reparação do dano não descaracteriza a fraude praticada". 

FURTO DE PEITO DE FRANGO NÃO É CRIME

A 6ª Turma do STJ reverteu condenação de um homem pelo furto de três peças de peito de frango, avaliadas em R$ 24,00, sob entendimento de que não é suficiente para configurar crime. Foi invocado o princípio da insignificância para afastar a tipicidade do ato. Na primeira instância e no tribunal mineiro o homem foi condenado, mas recurso da Defensoria Pública de Minas Gerais levou o caso para julgamento na Corte superiora. O homem era primário e de bons antecedentes. O relator, ministro Otávio de Almeida Toledo, escreveu no voto: "O valor irrisório de R$ 24 não configura violação relevante ao patrimônio, nem justifica intervenção penal. É um típico caso de irrelevância material".        

Salvador, 12 de abril de 2025.

Antonio Pessoa Cardoso
Pessoa Cardoso Advogados.
    


  





TRUMP ENVOLVE-SE ATÉ COM EXPULSÃO DE ESTUDANTES

A Justiça dos Estados Unidos, finalmente, cedeu às ingerências de Donald Trump, quando autorizou ontem, 11, a deportação do estudante palestino Mahmoud Khalil, preso, simplesmente, por participar dos protestos na Universidade de Columbia contra a invasão de Israel na Faixa de Gaza. O estudante está preso desde início de março, quando foi abordado pelo Departamento de Imigração e Alfândega na residência estudantil, onde ele morava. A decisão de deportação de Khalil foi tomada pelo juiz de imigração Jamee E. Comans, da Louisiana. A acusação contra o estudante é de que ele "representa consequências potencialmente graves em termos de política externa", alegação vazia, mas suficiente para causar tamanha penalidade. No início, os agentes de Trump afirmaram que Khalil tinha o visto de estudante revogado, mas a esposa, que é americana e está grávida, declarou que seu esposo tem residência permanente legal; sem saber o que falar, os policiais afirmaram que o green card foi revogado, quando se sabe que o green card garante a permanência de seus possuidores e proteção pela Constituição americana e nunca foi revogado.      

Khalil foi preso e transferido para prisão federal para migrantes na Louisiana, dificultando acesso dos seus advogados. A baixeza do presidente Donald Trump é tamanha que foi o primeiro a confirmar a prisão de Khalil, em sua residência universitária; o presidente usou sua rede para informar sobre a prisão do estudante. Escreveu Trump na sua rede Truth Social: "Esta é a primeira prisão de muitas que virão. Sabemos que há mais estudante na Columbia e em outras universidades pelo país que envolveram em atividades pró-terroristas, antissemitas e antiamericanas, e a Administração Trump não tolerará isso. Muitos não são estudantes, são agitadores pagos. Encontraremos esses simpatizantes terroristas do nosso país - para nunca mais retornarem". Khalil começou a ser acusado de má conduta, poucas semanas antes de sua formatura. Ele alega que as acusações contra sua pessoa são postagens de mídia social e que nada deve.   




CRIME HUMANITÁRIO: ISRAEL

O mundo silencia com a mais dura pena aplicada pelos carniceiros de Israel contra indefensáveis palestinos, crianças, idosos, mulheres a população em geral; os bombardeios de Israel na Faixa de Gaza destruíram o resto do encanamento que levava água para a cidade, causando a falta de água para milhares de palestinos. Quem quiser beber água, depois desta maldade dos israelenses, terá de andar quilômetros para encontrar fontes de água limpa. Mas a crueldade não pára por aí, pois os bombardeios foram intensificados, parece com a intenção de acabar a vida de todos os palestinos. Os carniceiros ainda tem o desplante de, através de comunicado, alegar que estão em contato com organizações internacionais para consertar a "avaria no encanamento", no norte da Faixa de Gaza. Desde julho/2024, que os habitantes da área denunciaram campanha coordenada de Israel para destruir poços artesianos.       

Desde outubro/2023, os carniceiros comemoram a morte de 50 mil palestinos, visando vingança contra um grupo de terroristas que mataram 1.200 israelenses. As Nações Unidas informam que dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza "sobrevivem com cerca de 3 a 5 litros de água por dia para consumo, higiene pessoal e preparação de alimentos", quando se sabe que o mínimo recomendado, em situações de emergência é de 15 litros. Enquanto isso, os israelenses continuam ordenando novas retiradas de civis do norte do território, afirmando que realizarão operações contra "infraestrutura terrorista". Tudo isso acontece, e o chefe maior dos carniceiros, Donald Trump continua emprestando todo apoio para esse crime praticado por homens bem armados contra um povo desarmado.    



SAIU NA FOLHA DE SÃO PAULO

Assim como na OAB, médicos deveriam fazer exame de proficiência? NÃO

Prova pontual é ineficaz; não há evidências de que a qualidade das faculdades de direito melhorou após o exame da Ordem

Sandro Schreiber de Oliveira

Doutor em epidemiologia, é professor associado da Universidade Federal do Rio Grande e da Universidade Católica de Pelotas; diretor-presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem)

Embora a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) concorde com a preocupação da sociedade quanto à ampliação de vagas e número de escolas médicas no Brasil, consideramos que um exame de proficiência não é capaz de contribuir para a redução da quantidade ou para a melhoria da qualidade dos médicos formados.

Não há evidência científica de que a qualidade das faculdades de direito tenha melhorado após a implementação do exame da OAB(aprovação nunca passou de 20%), ao passo que a quantidade de cursos de direito passou de cerca de 250 para mais de 1.500.

Alunos de medicina no laboratório de anatomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) - Anselmo Cunha/Folhapress

Diferentemente do que ocorre no direito, com possibilidade de exercício profissional para além da advocacia, na medicina um médico reprovado num exame de proficiência não terá qualquer possibilidade de atuação profissional na área. Isso amplia a possibilidade do exercício ilegal da profissão e, portanto, em vez de proteger a sociedade, tende a colocá-la ainda em maior risco.

Apesar da grande expansão de escolas e vagas de medicina, ainda existe carência de médicos nos serviços públicos, fato observado por quem utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS) cotidianamente. A situação dos planos de saúde não é distinta. Em muitas cidades brasileiras há longa espera por consultas e superlotação de emergências credenciadas aos planos de saúde. Um exame de proficiência reduzirá a quantidade de médicos disponíveis para atuar no cuidado às pessoas com piora desse quadro, tanto no SUS quanto na rede privada. O risco de colapso do sistema de saúde é real.

Não se trata de optar pelo número de médicos em detrimento da qualidade do cuidado às pessoas. Provas teóricas pontuais não têm capacidade de distinguir entre o bom e o mau profissional. Boa parte das questões em provas desse tipo, hoje, podem ser respondidas pela inteligência artificial. Não avaliam empatia, capacidade de comunicação, relacionamento com os pacientes ou outras habilidades práticas para o desempenho profissional —estas sim capazes de inferir a competência do médico para cuidar de pessoas.

Uma das causas para a expansão desenfreada de cursos de medicina é a perspectiva de grandes lucros do setor. Uma prova realizada após emissão do diploma penaliza apenas o recém-formado e amplia a possibilidade de ganhos financeiros com a oferta de cursos preparatórios para "passar na prova", agravando o problema em vez de resolvê-lo.

Esses cursos são caros e inacessíveis aos egressos do curso médico oriundos de famílias de baixo poder aquisitivo, tornando o exercício da medicina ainda mais elitizado e distante dos sonhos de muitos brasileiros.

Para muitos estudantes que se endividam para pagar cursos de medicina e passam vários anos trabalhando para saldar suas dívidas com bancos e financeiras, a não autorização do exercício profissional em consequência do desempenho em uma única prova coloca-os numa situação de inadimplência. Além dos impactos emocionais e do aprofundamento de sua vulnerabilidade social, essa situação pode gerar consequências para o sistema bancário, com redução da oferta de novos financiamentos.

A Abem, que há mais de 60 anos reúne escolas médicas, professores e estudantes na busca pela qualidade da formação médica, defende que a solução para assegurar o adequado cuidado prestado à população é dever do Estado e passa por uma estratégia de avaliação ampla, criteriosa e com consequências para cursos novos e antigos, associada a avaliações do estudante ao longo de toda a graduação, de modo que a emissão de diploma só se efetive após sua aprovação, gerando corresponsabilidade da escola e inibindo a expansão desenfreada de cursos ruins.